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Mostrando postagens de março, 2014

Piteco Ingá (Shiko)

Assim como “Laços” e “Magnetar”, o lançamento da história da Turma do Piteco (versão graphic novel, por Shiko) trouxe uma boa releitura dos personagens de Mauricio de Souza. O autor da história foi além de inovar no desenho: há interessantes intertextualidades narrativas, um entrelaçamento da história dos personagens com lendas, mitos e características da região nordestina do Brasil. Vale a leitura. Nota: 8,0

El libro de los abrazos (Eduardo Galeano)

Por vezes abraços ternos, por vezes um quase estrangulamento. Os braços de Galeano que nos envolvem durante a leitura sabem retratar situações dóceis, poéticas (como o menino que, surpreendido ao ver o mar pela primeira vez, pede a ajuda do pai para olhar tanta imensidão), mas também apontam para o descaso e a história de sofrimento da América Latina. O começo do livro, com ensaios mais filosófico-existenciais, é bom, mas não tão certeiro quanto o que vem depois. Ao iniciar seus textos sobre o homem latino, a pena do escritor tira força das nossas penas. Vale a pena insistir na leitura, pois os escritos vão ganhando profundidade e agudeza com o decorrer da leitura. Trechos: - RECORDAR: del latín re-cordis, volver a pasar por el corazón. - Porque todos, toditos, tenemos algo que decir a los demás, alguna cosa que merece ser por los demás celebrada o perdonada. - Lo único que yo sé es esto: el arte es arte, o es mierda. - A la corta o a la larga, los escritores se hamburguesan. - En los

Esto no es todo (Quino)

Seja através da Mafalda, seja através de seus outros, inúmeros personagens sem nome (caricaturas com as quais a identificação é imediata), Quino é sempre supremo. Neste livro, que reúne o melhor de sua produção, o resultado é desde gargalhadas até constrangimento (causado pela fina ironia que nos atinge diretamente). Mais do que recomendado. Nota: 9,0

Truque de mestre (filme de 2013)

No início, o filme parece fraco - um conjunto de atores desconhecidos agindo de modo exagerado, em shows de mágica um tanto megalomaníacos. No entanto, com um pouco de paciência, aos poucos vemos desenrolar-se uma boa trama, com artistas de peso como Morgan Freeman e Mark Ruffalo. Os mágicos, inicialmente preocupados apenas em alavancar a própria carreira, começam a batalhar em nome de um plano maior - como desviar dinheiro da conta de um milionário para as pessoas que foram exploradas por ele. E todos esses atos no estilo Robin Hood são realizados por meio de ilusões, truques, artifícios de bom mágico. Nota: 7,5

Wolverine (filme de 2013)

Ouvi dizer que o filme explorava os conflitos do personagem de uma maneira madura, etc e tal. Mentira. Só personagens superficiais, lutinhas, pá pof, pof pá e o bem vence no final. A parte interessante é a exploração dos costumes do Japão - mas já adianto que é feita de maneira bastante rasa, sem aprofundamento. Nota: 6,5

Ponte para Terabithia (filme de 2007)

Ainda que use de efeitos especiais, maquiagens e outros truques, este é um raro e recente filme infantil que dá mais valor ao seu enredo do que a animações feitas com tecnologia de ponta. Apesar de simples, toda a história é muito bem conduzida e bastante verossímil, já que os seres fantásticos que as crianças encontram são frutos de suas imaginações. E, como para a mente de um pequeno não há limites, as situações visualizadas pelos protagonistas em suas brincadeiras parecem bastante reais. O grande crédito da obra é lidar com assuntos difíceis, como a morte, em uma linguagem própria para crianças, sem, contudo, superficializar esses momentos. É feito para emocionar o público de todas as idades. Nota: 8,5

1Q84 (Haruki Murakami)

A trilogia de quase 1000 páginas do escritor japonês Haruki Murakami começa despretensiosa, focando a vida de uma aparente executiva atrasada para efetuar uma tarefa importante. No entanto, logo no segundo capítulo percebemos que há algum objetivo maior na obra, que conta, na maior parte do tempo, com dois personagens principais, vivendo em um mesmo mundo e levando vidas em paralelo. 1Q84 é um livro que deve ser lido sem apresentações prévias. Qualquer tentativa de sinopse arruina o suspense de uma trama muito bem amarrada, construída de forma  a surpreender o leitor a cada página. Contudo, não é apenas de tensões que se alimenta a pena do autor japonês - ele sabe envolver o leitor aos poucos, com descrições tão minuciosas que nos fazem mergulhar no cotidiano dos personagens. Além de todos esses recursos, a presença de uma ou outra frase de efeito - porém absolutamente profunda - me fisgou completamente. Por ser um romance tão longo, há uma ou outra incoerência, talvez pro

Salaam Bombay (filme de 1988)

Mais um filme indiano para a lista dos assistidos - dessa vez, nada com a presença do astro Aamir Khan (meu ator favorito) nem danças típicas. Ao contrário dos outros filmes do país com que estou acostumada, neste também não há mistura de gêneros - é drama do começo ao fim. Não é um longa para assistir quando se procura algo para o lazer (como foi o meu caso), mas nem por isso deixa de ser uma obra recomendada. É uma produção bastante triste, que retrata com muita verossimilhança o cotidiano da população pobre indiana dos anos 80. O trabalho das crianças no filme é sensacional e bastante duro - elas são as personagens principais e têm de interpretar cenas de violência, drogas e insinuações de sexo.  Se há um ponto fraco na obra, não são as histórias e nem as atuações, mas sim os demais recursos - fotografia pobre, trilha sonora pouco interessante etc. Mesmo assim, como o que vale é o conteúdo e não a forma, Salaam Bombay merece ser assistido. Nota: 7,5

Juventude (Joseph Conrad)

Joseph Conrad foi um autor polonês que resolveu singrar os mares do mundo, e por fim o oceano das palavras. Considerado um escritor inglês (por sua dupla cidadania, conseguida posteriormente), seus temas são majoritariamente voltados para as viagens, o mar, os navios, o mundo instável daqueles que vivem com a água sob os pés. "Juventude" é uma pequena história, que trata principalmente do sentimento de invencibilidade dos jovens contrastado com a impotência e desânimo dos mais velhos. E, como fundo da trama, há o tema das viagens - sempre instigante. Trechos : "(...) porque um só é o prazer de vida, enquanto o outro é a própria vida". "Vocês, companheiros, sabem que há viagens que parecem destinadas a ilustrar uma vida e podem ficar como símbolo de uma vida." "Era janeiro e o tempo estava bonito - o belo tempo ensolarado de inverno que tem mais encanto do que o verão por ser inesperado e frágil, e sabemos que não irá durar muito, que não pod

Pompeia (filme de 2014)

Historicamente, é um tema intrigante. Visualmente, trabalhar com cenas do vulcão Vesúvio, sua erupção e os corpos petrificados é uma prerrogativa para boas tomadas. Entretanto, em Hollywood, trabalha-se com grana, não necessariamente qualidade. E, assim, uma obra que contava com bons temas resultou em mais um filminho enlatado.  Por mais que esta tenha sido uma das grandes tragédias da humanidade, o filme peca pelos excessos. Há efeitos especiais megalomaníacos em contraste com atuações e diálogos pífios. É de fazer Vesúvio se remexer de indignação. Nota: 3,0

Show de bola (Jonas Worcman de Matos; José Santos)

Repleto de poeminhas interessantes (que têm como única temática a paixão brasileira pela bola), o livro vale a leitura da criançada. E vale mais ainda como fonte de inspiração: feito em coautoria, um dos escritores dos poemas é um moleque que começou a publicar aos 15 anos, também fã da bola no pé e cheio de ideias pra fazer gol de letra, gol nas letras. Quem sabe, após a leitura, os pequenos não queiram se aventurar na escrita? Nota: 8,0

Chapeuzinho Adormecida no País das Maravilhas (Flavio de Souza)

Misturar contos de fadas não é moda de hoje - sendo a ideia pouco original, a chance de escorregar em clichês e chavões é grande. Neste cenário já tão batido, Chapeuzinho Adormecida se destaca como uma trama coerente, engraçada e que tem o poder de entreter a criançada. A versão em livro digital vale especialmente a pena, com recursos audiovisuais muito interessantes, capazes de enriquecer o conto ainda mais. Nota: 8,5