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Mostrando postagens de abril, 2014

A gramática do amor (Rocío Carmona)

Este é um daqueles livros que me caiu na mão, sem que eu soubesse nada sobre seu autor ou conteúdo. Fui atraída pela capa, que me deu a entender que se tratava de um romance infanto-juvenil, e pela palavra "gramática" ostentada no título. Com curiosidade de professora comecei a leitura, pensando que se tratava de um daqueles livros paradidáticos que poderíamos recomendar aos nossos alunos. Com o que não contava é que "A gramática do amor" é um best-seller, com linguagem e tema característicos do gênero. Toda a história gira em torno de uma garota de 16 anos que sofre uma decepção amorosa e passa a ter aulas de "gramática do amor" com um professor de gramática inglesa. O mote é bem bobinho, mas os livros indicados pelo docente à garota são fenomenais, assim como os trechos selecionados. Seria uma boa obra  para indicar a alunos de Ensino Médio (linguagem fácil, intertextualidades interessantes), não fossem as referências a sexo e drogas que deixariam os

Beginnings (Anne Geddes)

O conceito da obra é simples: relacionar imagens de bebês e grávidas a símbolos de fertilidade da natureza: botões, bulbos, ovos, ninhos... E, através da simplicidade, a fotógrafa consegue um excelente resultado: imagens que transmitem beleza e poesia. Nota: 8,5

Siddharta (Hermann Hesse)

Há inúmeras versões para a história de Buda, assim como o próprio Buda não é um só. Hermann Hesse aproveita este conceito para recriar a biografia de Sidharta à sua maneira, buscando por si próprio o conceito de espiritualidade que seria capaz de nos levar ao nirvana. Apesar de bem redatado, o livro não me convenceu. Ainda que não esperasse a figura de um Buda sem pecados, boa parte da vida do personagem não traz nenhum elemento da santidade ou da espiritualidade elevada que tanto buscamos. Por mais que o próprio conceito do budismo reforce a transcendência do cotidiano, a obra me pareceu muito corriqueira, afastada de conceitos mais profundos. Nota: 6,5 Trechos: "La verdadera profesión del hombre es encontrar el camino hacia sí mismo." "En ese momento sentía más profundamente que nunca el carácter indestrutible de toda la vida, de la eternidad en cada instante (...) "

Charneca em flor (Florbela Espanca)

Ah, Florbela... apesar do tom às vezes demasiado romântico, da melancolia suicida, dos temas um tanto redundantes, ainda é uma das minhas poetas preferidas. Se só o fato de ser mulher e assumidamente escritora já a coloca em uma posição de destaque no início do século XX, a sensualidade que emana de seus versos é ainda mais corajosa. Ou, como diriam os grandes pensadores contemporâneos, são poesias que fazem o recalque passar longe. Ainda que nem todos os poemas tenham a mesma profundidade, este livro não deixa de ser incrível. Trata-se, de fato, de uma obra desigual, mas nem por isso menos legítima. Trechos: Quem sabe se este anseio de eternidade, A tropeçar na sombra, é a verdade, É já a mão de Deus que me acalenta? *** São os teus braços  dentro dos meus braços:  Via Láctea fechando o Infinito! *** Ser a moça mais linda do povoado, Pisar, sempre contente, o mesmo trilho, Ver descer sobre o ninho aconchegado A bênção do Senhor em cada filho. Um vestido de chit

Tudo o que você não queria saber sobre sexo (Mirian Goldenberg; Adão Iturrusgarai)

As tiras de Adão são descontraídas, apesar de às vezes um tanto preconceituosas/presunçosas. Já quanto a Mirian Goldenberg, a julgar pelo currículo tão pomposamente exibido na obra, era de se esperar um debate mais sério sobre o tema. Apesar das estatísticas recolhidas serem interessantes, elas só servem de mote para as boas piadas do cartunista. Nota: 6,5

Depois do terremoto (Haruki Murakami)

Para quem leu 1Q84, este livro é uma espécie de gênese da obra: publicado quase 10 anos antes, já traz alguns dos motes que serão muito melhor reaproveitados por Murakami na narrativa de Aomame e Tengo. São 6 histórias que, aparentemente, têm como pano de fundo o terremoto. No entanto, o tremor de terra pouco chega a interferir na estrutura das narrativas. Se ele era o elemento de coesão entre as histórias, sua função deveria ser quase a de um personagem, ao invés de um simples elemento do cenário. O final da maior parte dos contos deixa a desejar. Murakami propõe finais abertos sem consistência, que não instigam o leitor a pensar em novas possibilidades, em significados ocultos; parecem simplesmente histórias mal escritas. As duas narrativas finais, sobre a rã e sobre o urso, apesar do tom mais surrealista/infantil, são as que melhor conseguem atingir o leitor, capturá-lo pela empatia. Mas, como o desfecho não salva toda a obra, vale apenas como curiosidade: um meio para co

A revolução dos bichos (George Orwell)

O livro traz um dos motes que mais me pertubam: como o homem (ou, neste caso, o porco), pouco a pouco, vai sendo corrompido pelo meio e o quanto uma sociedade ideal é uma utopia impossível. Após constatarem todos os sofrimentos pelos quais passavam na fazenda, os animais decidem fazer a revolução e expulsar o homem. Nesta fábula bastante moderna e sem moral, os bichos agem, em princípio, de maneira idealista, buscando construir um cenário no qual não só o homem, mas também os maus tratos não participem. Por ser tão vago, o conceito de "sociedade ideal" paradoxalmente gera a discórdia entre os animais, notadamente os porcos, que assumem o poder após a saída do fazendeiro. E, assim, o que era para ser um espaço de justiça se torna um ambiente tão opressor quanto o criado pelo homem. É um livro chocante, necessário. Afinal, nada melhor para compreender nossa sociedade do que descer até o chiqueiro. Nota: 9,5 Trechos: Todos os animais são iguais. Mas alguns animais sã

O grande debate (filme de 2007)

O filme trabalha duas questões principais: o preconceito racial nos anos 1960 nos Estados Unidos e o esforço de um professor (Denzel Washington) para treinar seus alunos e torná-los campeões nacionais em torneios de debates. Como professora de produção textual, o que mais me interessou na obra foram as cenas que se referem aos métodos do professor, suas teorias de argumentação, seus treinos de lógica. Não só para os mestres, mas também para os alunos que desejam aprimorar o senso crítico é uma obra altamente recomendável. Não é por ter me apaixonado pelos debates que o contexto histórico deixa a desejar: o filme traz uma temática interessante e sabe abordá-la com firmeza. Faltou uma trilha sonora e uma fotografia mais intensas... mas, para o objetivo a que se propôs, é uma boa produção. Nota: 8,5

O menino e o mundo (filme de 2014)

Ainda que fosse só pela experiência estética, "O menino e o mundo" já seria um bom filme. A linguagem da animação usa aquarelas, recortes, colagens, efeitos que lembram quadros, videogames, clipes musicais, caleidoscópios... É uma imersão em diversas possibilidades artísticas, todas construídas com extremo bom gosto e muito bem contextualizadas em relação a cada momento da trama. Se, em um primeiro momento, os riquíssimos efeitos visuais nos capturam, em um segundo momento já são nossos ouvidos que são conquistados com a espetacular trilha sonora - de Barbatuques a Emicida, ela é eclética e rica. Mas, como não bastam efeitos visuais e sonoros, um filme precisa também de uma boa história. E é neste ponto que "O menino e o mundo" se supera. Inicialmente contada com uma linguagem bastante infantil, aos poucos a narrativa mostra todo o seu potencial. As críticas ao nosso modo de vida, à destruição do planeta em nome do dinheiro, à falsa democracia, à utó

Contos de amor e de sexo (org. Braulio Tavares)

Apesar do título - e do nome do autor - a obra não é tão licenciosa quanto parece. Seu foco é mais retratar a interferência da tecnologia nas relações amorosas, quase sempre em um cenário futurístico. São diversos os autores, e, no geral, as histórias são bastante envolventes. Nota: 7,5

O livro dos pássaros mágicos (Heloisa Prieto)

Com histórias de várias épocas, lugares e autores, o livro é uma antologia interessante de narrativas e poemas sobre pássaros. Desde as nossas aves, tipicamente brasileiras, até as espécies mais exóticas, a obra conta com um bom enredo, belamente ilustrado. Nota: 7,5

O livro do chá (Kakuzo Okakura)

Quanta filosofia cabe em uma xícara de chá? Nesta obra, de 1906, temos, em poucas páginas, muito mais do que a descrição do ritual do chá no Japão - o livro é um verdadeiro compêndio de boa parte da filosofia oriental. Conceitos difíceis, como a diferença entre o taoísmo, o budismo, o xintoísmo, ficam claros como a água - fervente - pelas palavras de Okakura. A redação da obra é direta e simples - como uma boa cerimônia do chá deve ser. Assim, a aproximação com a cultura oriental fica muito mais viável. O que era extravagante passa a ser compreensível e o que era exótico passa a ser visto como indispensável. Os lados ocidental e oriental se complementam; mais do que explicar seus valores, o autor faz um apelo à compreensão entre os povos. Ainda que suas críticas aos ocidentais - mesmo hoje bastante pertinentes - apareçam em boa parte do livro, o que prevalece é o discurso pelo entendimento, tolerância e aprendizagem com as demais culturas. Nota: 9,5 Trechos: "O 'ch