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Mostrando postagens de maio, 2014

Florbela (filme de 2012)

Florbela Espanca é uma das minhas poetas preferidas - autora do começo do século XX, é dona de uma poética provocante (ainda mais se pensarmos o que significava ser mulher e escritora nessa época). Um filme sobre a escritora seria uma homenagem mais que merecida - no entanto, há tempos não via algo tão ruim nas telas. Como diria nosso poeta Bandeira, é a vida que poderia ter sido - e não foi. Tudo o que Florbela representou em vida foi estragado, após a sua morte, nesta obra pífia. Feminismo O amor dum homem? - Terra tão pisada!  Gota de chuva ao vento baloiçada...  Um homem? - Quando eu sonho o amor dum deus!...  Como pode ser visto nos versos acima, Florbela, apesar dos muitos versos românticos escritos, sabe questionar o amor platônico como ninguém. Sua coragem, zombaria em relação ao sexo oposto é interpretado, no filme, por meio de uma personagem rasa. Feminismo é superficialmente visto como lesbianismo, adultério e amigos intelectuais boêmios. O foco da obra é o que a poe

Notas de viaje - Diario en motocicleta (Che Guevara)

Quem assistiu - e se apaixonou - por Diários de Motocicleta, filme dirigido por Walter Salles, não vai se decepcionar com esta obra. Ainda que a imagem do Che guerrilheiro esteja gravada no imaginário comum, quem se apresenta aqui ainda é o Che sonhador - menino, aventureiro, desbravador. Para aqueles que veem na figura do argentino um herói inquestionável, o livro é uma boa pedida para conhecer de onde veio a fagulha que acendeu em Ernesto Guevara a decisão de lutar por uma América Latina não mais submissa. La Poderosa, veículo da viagem Por outro lado, aqueles que creem que Che é mais uma farsa, a obra também vai agradar. Afinal, aqui ainda não estamos diante da figura controvertida, polêmica, endeusada pelos esquerdistas e odiada pelos reacionários, da qual tão pouco sabemos de fato.  O formato do diário nos dá acesso limitado às informações da viagem. Nem tudo é claramente explicado ao leitor, que tem de se valer da própria capacidade interpretativa para preencher as la

3096 dias (Natascha Kampusch)

Confesso que comecei a leitura de 3096 dias mais pelo interesse - mórbido - que este tipo de tema gera do que procurando qualidades de escrita notáveis. No entanto, se há algo em que este livro se destaca é pela astuta análise psicológica que sua autora faz de si própria e de seu sequestrador. Talvez por ter feito um intenso trabalho de terapia, para recuperar-se dos oito anos mantida em cativeiro, Natascha Kampusch tem uma visão arrebatadora das circunstâncias a que foi submetida. O livro não se detém apenas nos anos do sequestro; a jovem autora traça todo o panorama da sua infância, buscando quais características lhe deram forças para sobreviver aos longos anos presa em um cubículo. É uma análise bastante fria do meio em que viveu - seja em casa, seja no cativeiro - mas, justamente por isso, bastante intrigante e reveladora. Eu já estava tão profundamente confinada que o cativeiro também se encontrava dentro de mim. Criar histórias com meus personagens, que eu equipava com

Livre (Cheryl Strayed)

O que me interessou neste livro, com capa de autoajuda ("Uma história de superação") foi apenas seu tema: uma viagem no estilo mochileira que se tornou tão famosa a ponto de virar filme neste ano, com Reese Witherspoon no papel principal. Iniciei a leitura por curiosidade, mas pronta para largar o livro no primeiro capítulo, caso ele se mostrasse uma história mal construída. No entanto, best sellers podem sim esconder um conteúdo maravilhoso, com uma trama bem articulada e enredo cativante. Assim que iniciei a leitura de "Livre", me senti presa à história, que vai muito além da descrição da longa caminhada pela Pacific Crest Trail.  A autora, antes de nos apresentar sua jornada, explica os motivos que a levaram a caminhar por três meses sozinha ao longo de florestas, campos, neve, desertos. A análise madura que faz de sua própria vida, focando o vazio que causou a perda de sua mãe, é comovente. Suas dificuldades imensas ao longo da trilha (uma mochila que mal