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Mostrando postagens de setembro, 2014

Dentro da casa (filme de 2012)

O filme é uma abordagem provocativa da educação e do poder de um professor dentro da sala de aula, que pode ser tanto inspirador quanto destrutivo. Ainda que o personagem mais enigmático da obra seja um garoto de 16 anos, a figura do mestre,  mesmo que não tão potente, é a que engrena e motiva toda a história.  A discussão sobre termos literários e episódios narrativos é apaixonante, com um toque de "Sociedade dos Poetas Mortos". Por outro lado, o cerco dentro do qual o professor acaba se vendo é derivado de suas atitudes impensadas - semelhante à obra "A onda", também um clássico quando falamos de educação. Nem sempre o enredo consegue manter uma forte verossimilhança, e também escorrega um pouco no final, pouco crível, apesar de compreensível. No entanto, é de fato uma ótima obra para discutir os elementos que fazem uma boa história.

Teoria geral do esquecimento (José Eduardo Agualusa)

Um dos capítulos do livro diz que um homem com uma boa história para contar é quase um rei. Um viva então à majestade de José Eduardo Agualusa, autor de tantas narrativas vigorosas, com raízes fortes e profundas como o tronco do baobá. Sua literatura não se prende à superfície e nem esconde sua africanidade. No entanto, trata-se também de um daqueles poucos autores que conseguem ser, simultaneamente, regionais e universais. Talvez essa última característica se deva à pungente lusofonia do escritor. Vivendo entre Brasil, Portugal e Angola, Agua-Lusa é um autor que se desloca no oceano e nos mares que separam as diversas facetas do português. Ainda que sua temática seja predominantemente africana, as intertextualidades riquíssimas controem pontes - necessárias - entre as várias línguas portuguesas. Teoria geral do esquecimento é uma obra quase prima. O enredo central, sobre uma mulher que se trancafia em um apartamento por anos (isolada dos outros, mas voyeur da vida do lado de

Cartas a um jovem poeta (Rainer Maria Rilke)

Esse é um daqueles livros que de tão recomendados, citados, comentados, já parecem ter sido lidos antes mesmo da primeira virada de página. Tinha uma visão consolidada de que o tema desta obra eram os conselhos que um escritor pode passar a outro - e não imaginava que, antes de tudo, essas cartas são uma espécie de manual para a vida. Tão necessário, aliás. Rilke se ancora na literatura, mas passeia por caminhos diversos: a solidão, a escolha da mulher, as amizades, os valores morais de cada um... Como um mestre frente a seu discípulo, o escritor o guia pela mão através do mundo. Nem sempre os seus ensinamentos são indiscutíveis. Há material que sobra, existem conselhos deixados de fora. Mas, superando seus pequenos deslizes como filósofo, Rilke se apoia na força das palavras. Seu discurso é uma torrente que nos leva, com um vigor romântico contagiante. Trechos: Uma única coisa é necessária: a solidão. A grande solidão interior. Ir dentro de si e não encontrar ninguém durante h

English Vinglish (filme de 2012)

Bem filmado, com atuações razoáveis, English Vinglish é um filme simpático, mas que peca principalmente no abandono de suas origens para criar uma comédia romântica a la Hollywood. Por mais que a personagem ande para cima e para baixo de sári, o que caracteriza a trama é principalmente o american way of movies.  Considerando que a base da trama é o confronto entre as tradições, faltou sim mais cor local à obra. Ainda que não se trate de nenhum filme revolucionário, algumas questões interessantes são trazidas à tona: a posição da mulher na sociedade indiana, as influências estadunidenses na cultura etc. Mas é preciso lembrar que esses temas apenas dão liga à trama, pois não é o objetivo da obra discuti-los de maneira aprofundada. É só mais um filminho água (talvez chai) com açúcar.

As memórias perdidas de Jane Austen (Syrie James)

A autora, especialista em Jane Austen, sabe mesclar o nosso interesse intrínseco pela vida alheia com um estilo literário intenso, vívido, tão próximo do modo de narrar da biografada. O contexto (baseado nas correspondências pessoais da escritora) torna ainda mais verossímil o desenrolar da trama. Há muitos boatos em torno da vida pessoal de Jane, escritora de romances - literalmente românticos - que, em vida, nunca teve um relacionamento publicamente conhecido. Muitos questionam como pôde saber tanto das relações humanas quem nunca foi casada etc. etc. Apesar da falta de fundamentação do boato, não deixa de ser interessante saber que a escritora teve sim os seus affairs . Skoob:  http://www.skoob.com.br/livro/324299-as-memorias-perdidas-de-jane-austen