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Mostrando postagens de agosto, 2015

Hector e a busca pela felicidade (filme de 2014)

O filme mostra um psicanalista que decide viajar para descobrir o que o faz feliz - e para que, de posse dessa informação, possa compartilhá-la com seus pacientes depressivos e paranoicos. Assim, Hector abandona uma rotina muito estável e aparentemente feliz para percorrer terras de Oriente e Ocidente. Se o mote da trama não é ruim (e nem a narração das aventuras do personagem), ainda assim a obra peca muito. Há um excesso de clichês e preconceitos que nem sequer servem para divertir o espectador - estão lá por pura ignorância dos produtores do filme. Um exemplo é o contraste que se dá entre os destinos escolhidos pelo personagem: China (país), África (continente) e Los Angeles (cidade). Enquanto sua parada em terras estadunidenses merece até a nomeação da cidade escolhida, o destino no continente africano não é enunciado. Trata-se simplesmente da "África", como se todos os mais de 50 países do continente apresentassem as mesmas características e pudessem ser reu

A busca (filme de 2013)

Apesar de um início muito desanimador, com cenário sem graça, personagens irritantes e diálogos gritados, com os protagonistas sempre em conflito, vale a pena seguir em frente. Se não é um grande filme, ao menos vale a atuação de Wagner Moura, que aos poucos vai modificando as características do advogado que interpreta, transformando-o em alguém mais humano e simpático para o público. A trama conta a história de um casal, recém-divorciado, que sai em busca do filho adolescente desaparecido. Enquanto a mãe fica em casa, aguardando um telefonema que nunca chega, o pai segue a trilha do caminho percorrido por seu rebento. Conforme vai atrás de seus passos, ele vai descobrindo quem é de fato seu filho, até então um desconhecido, alguém que só rompia as suas expectativas de pai. A atuação de Lima Duarte como o avô, apesar de breve, é bem marcante. Mais do que uma grande história, é uma narrativa banal interpretada por bons profissionais, que sabem dar alguma cor ao enredo.

Cotoco (John van de Ruit)

Muito recomendado em canais literários, Cotoco merece a fama que levou de livro divertido. Ao retratar as confusões de um internato pelo olhar de um menino de 13 anos, o autor consegue criar um tom sarcástico e irônico sem ser excessivamente cruel. No entanto, nem só de bom humor se faz a obra: o foco do romance parece ser narrar as experiências mais marcantes da adolescência: primeiro beijo, namoros, sexo, drogas, festas, pressão escolar, relação com os pais e por aí vai. Apesar de ser o diário de um garoto e de eu ter a certeza de que iria fazer um grande sucesso ao ser distribuído ao público dessa idade, creio que a classificação da obra se encaixa melhor como Young Adult do que como infantojuvenil. Há temas muito polêmicos que são abordados e que, se lidos acriticamente, podem soar como incentivo a atitudes questionáveis. O humor bastante politicamente incorreto da obra, se por um lado não parece ainda adequado às crianças, por outro é de fazer gargalhar os mais velhos. Ai

Na cozinha noturna (Maurice Sendak)

O livrinho infantil conta com ilustrações e um enredo meio maluco, que me fizeram lembrar de Alice no país das maravilhas com uma linguagem mais moderna. Não se trata de uma obra infantil profunda, apenas boas brincadeiras com a linguagem.

Americanah (Chimamanda Ngozi Adichie)

Estudar literaturas africanas foi uma das minhas melhores descobertas na faculdade - no entanto, africanidade não significou negritude no meu curso de Letras. Além da maioria dos professores brancos, os autores mais estudados também o são. Sem tirar a qualidade de um Mia Couto ou um Agualusa, é preciso considerar que a grade curricular é também uma escolha ideológica. E se a proposta do governo é inserir o estudo de literaturas africanas de língua portuguesa na escola, isso não pode ocorrer apenas por meio de livros escritos por autores que nunca sofreram racismo. Chimamanda N. Adichie sabe abordar as questões relativas à cor da pele e ao preconceito de modo instigante, polêmico, verdadeiro. A autora cria nuances nos personagens, que não se revelam totalmente bons ou maus - mais filhos do sistema do que donos das próprias escolhas. A narrativa é longa, bastante detalhada. Se, por um lado, isso faz que as primeiras páginas do livro não encantem de cara, por outro traz um env

A guerra de Don Emmanuel (Louis de Berniéres)

Um autor do qual nunca tinha ouvido falar e um livro que comprei, de passagem, pela capa bonita e pelo preço barato, só para não ficar sem nada para ler na mochila. E que surpresa boa o acaso me garantiu, com uma das melhores leituras da minha vida. Apesar de ser um autor inglês, Louis de Bernières morou algum tempo em terras latinas, o que lhe permitiu criar essa obra que é tão identitária, com uma marca latino-americana inquestionável. A narrativa se passa em um país latino inventado, não nomeado, que reúne todos os problemas que nos são comuns: corrupção, pobreza, violência, fome, ditaduras, governos estúpidos, lideranças políticas desalinhadas, desastres naturais, fauna e flora em exuberância, presença de interesses estrangeiros... A lista é enorme, mas nem por isso o romance é, em algum momento, menos profundo. O que o autor faz é recriar a identidade latina, com todos os seus revezes. Apesar de ser intitulado com o nome de um de seus personagens (muito carism

Gekijouban Bungaku Shoujo (Anime)

Apesar de um tanto confuso, exagerado e um tanto previsível no início (especialmente para quem não conhecia nada da série, como eu), ao longo da história os personagens se tornam um pouco mais interessantes e complexos. O que me interessou bastante no anime foi a intertextualidade com a obra de Miyazawa Kenji, em especial Viagem noturna no trem da Via Láctea. Talvez para quem não conheça os personagens do desenho e nada da obra do escritor japonês, o filme perca toda a sua graça. Como eu encontrei um ponto de referência, acabei achando a trama um pouco mais simpática, apesar de estar longe de ser uma grande obra.

O mundo inteiro (Liz Garton e Marla Frazee)

Um livrinho para crianças, ricamente ilustrado e dono de um texto simples, mas que tem profundidade na medida certa. É uma obra rica para os pequenos.

Contos maravilhosos infantis e domésticos (Irmãos Grimm)

Crianças enterradas vivas. O pai que obriga a própria filha a casar-se com ele. Pessoas colocadas em barris lotados de cobras ou despedaçadas das piores maneiras possíveis. Sinopse de uma coletânea de contos de terror? Não - apenas relances de algumas das clássicas narrativas de contos de fadas dos Irmãos Grimm. A edição, muito cuidadosa e excepcionalmente bonita, da Cosac&Naify, aumenta ainda mais o prazer pela leitura, e fornece algum contexto básico para que entendamos o grande contraste entre os contos maravilhosos atuais e os que os originaram. As xilogravuras de J. Borges trazem um toque de brasilidade, aproximando as tramas europeias de nossa realidade tropical. Apesar de, em princípio, tratar-se de uma coletânea de textos do mesmo gênero (contos maravilhosos), é interessante notar que nem sempre a estrutura narrativa segue o esquema de era uma vez/conflito/clímax/e quem gostar que conte outra. Há muitas narrativas no estilo de adivinhas, ou baseadas na repetiç