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Mostrando postagens de julho, 2016

O mágico de Oz (livro de 1900 e filme de 1939)

Há uma tira em quadrinhos do argentino Liniers em que sua personagem Henriqueta, uma menina bastante curiosa sobre o mundo, está parada, em dúvida, em frente a uma estante de biblioteca. Quando questionada sobre o porquê de levar tanto tempo para escolher uma leitura, ela responde:"Os livros da infância são aqueles que nos marcam para sempre. É muita responsabilidade". Tive boas leituras quando criança, bastante significativas para mim até hoje, e uma das que mais me marcou foi a coleção de O mágico de Oz. Não sei ao certo se a biblioteca da minha cidade dispunha de todos os livros da série, mas me lembro de ter ficado imersa um bom tempo na terra de Oz - uma espécie de Harry Potter do início do século XX, com 13 volumes de histórias lançados por L. Frank Baum. Logo na apresentação da primeira das histórias, o autor diz que sua intenção, ao publicar um livro infantil, era ir na contramão da literatura feita para os pequenos na época - queria um enredo com nada de violênci

Peanuts 1955 a 1956 (Charles M. Schulz)

Conforme os livrinhos da coleção completa dos Peanuts vão avançando no tempo, não só o traço dos personagens fica mais reconhecível, como as piadas das tirinhas ganham um caráter mais atemporal, fazendo perfeito sentido mesmo em uma leitura atual. A implicante Lucy tem sacadas ótimas nessa coleção, principalmente críticas em relação à escola.

A mbira da beira do rio Zambeze (Décio Giooelli)

Livrinho interessante para explorar tradições africanas e ensino de música, com boas fotografias, ilustrações e informações contextualizadas para a criança e o adulto que quiser acompanhá-la na leitura.

Jogos Vorazes 2, 3 e 4

Até o filme 2, apesar de todos os clichês do gênero, Jogos Vorazes apresenta um viés político interessante. Algumas críticas sociais, ainda que carreguem um tom exagerado e apocalíptico, são também bem construídas. A partir do terceiro filme, contudo, toda a história desanda para uma confusão de personagens, aventuras, lutas quase incompreensível. O que passa a importar no enredo são os efeitos especiais, o romance aguado e o conteúdo facilmente digerível. Uma série adolescente que poderia ter sido boa... mas que não foi.

Tolstói: a biografia (Rosamund Bartlett)

Definitivamente, uma das personalidades com vida mais polêmica dos últimos séculos, Tolstói é ora admirado, ora odiado por diferentes atributos: é o literato responsável por obras de grande envergadura, como Anna Kariênina e Guerra e Paz; defensor da teoria da não violência, que inspirou Gandhi e a independência indiana; vegetariano convicto no final da vida; religioso fervoroso, mas que, contraditoriamente, foi excomungado pela Igreja Católica, dentre tantos outros títulos possíveis. Costumo dizer que nenhuma admiração incondicional resiste a uma boa biografia. Com Tolstói, não é diferente, até porque sua personalidade é múltipla e ele frequentemente adota atitudes antagônicas ao longo de sua existência de 82 anos. À frente de seu tempo em muitas características, em outros aspectos o autor é bastante reacionário, como no que se refere à questão da mulher: mesmo quando seus contemporâneos já defendiam a libertação e o voto feminino, Tolstói enxergava que a principal (e talvez exclusi

A luta corporal (Ferreira Gullar)

A verdade é que pouco conheço de Ferreira Gullar, nomeado por alguns como nosso maior poeta vivo. Fora os poemas clássicos de livros didáticos (Uma parte de mim/  é todo mundo:/  outra parte é ninguém:/  fundo sem fundo; " O branco açúcar que adoçará meu café nesta manhã de Ipanema não foi produzido por mim nem surgiu dentro do açucareiro por milagre."), quase nada li do autor. Em parte, por causa de um infeliz texto seu, publicado na Folha, no qual o poeta afirma não haver a necessidade de rotular a literatura como branca ou negra - o que é fácil de defender quando se faz parte da minoria masculina e branca que publica no Brasil. Disposta a me desfazer da birra pelo autor (afinal, quão poucos são os escritores que nos restariam tirados os preconceitos de todos os tipos), comprei a edição de toda a sua poesia, pela José Olympio. Começando pela ordem cronológica, me dediquei à leitura de "A luta corporal", livro de estreia datado de 1954.  Há alguns poemas i

The fundamentals of caring (filme de 2016)

O filme, produção da Netflix, conta com bons atores, uma filmagem com fotografias interessantes, cenários chamativos (para uma obra que é road-trip), trilha sonora ok e por aí vai. No entanto, para quem já assistiu ao excelente "Os intocáveis" (filme francês de 2012) é difícil ignorar as semelhanças exageradas entre os dois enredos.  "The fundamentals of caring" reproduz, de forma que parece um tanto plagiada, a ideia de que um cuidador de deficientes físicos tem de tratar os seus clientes de igual para igual, sem que a incapacidade locomotora seja um empecilho para uma vida plena e divertida. No entanto, além de não ser original, a atuação de Paul Rudd (como cuidador) é muito menos cativante do que a do "intocável" Omar Sy. O filme, ainda que tente ser politicamente incorreto, um tanto rebelde, não vai além dos clichês do gênero. Se o enredo interessa, a dica é ir direto à fonte francesa.

Casa das estrelas: o universo contado pelas crianças (Javier Naranjo)

Quando separei este livrinho para leitura da minha estante, também já deixei ao seu lado lápis e post-it para muitos grifos e anotações. Obra de máximas, frases que condensam muito do mundo em pouco texto, é uma leitura rápida, mas nem por isso superficial. O organizador da seleção de frases, Javier Naranjo, é um professor colombiano que foi acumulando, ao longo dos anos, definições de seus alunos para conceitos tão complexos como vida, morte, violência e amor. As frases das crianças vão muito além da inocência esperada: são pequenas doses de poesia, carregadas de metáforas, e, muitas vezes, refletem experiências trágicas e dolorosas. Um livro essencial para compreender a infância e nosso olhar sobre ela.

Papa-Capim em Noite Branca (Marcela Godoy/Renato Guedes)

A ideia de usar personagens marcantes da infância de muitos brasileiros para criar novos roteiros, abordagens e leituras é a proposta da Graphic MSP, que já passou do seu vigésimo volume. Como fã e colecionadora, não tive nenhuma grande decepção até agora com as publicações, ainda que, sendo de autores diferentes, logicamente tenham qualidade desigual. Um dos pontos fortes dessa "sacada" editorial é fazer que, por meio da releitura, nos aproximemos mais dos personagens da Turma da Mônica com os quais não nos identificávamos tanto. Isso já havia acontecido comigo com a excelente história criada para a Turma da Mata e agora, novamente, com a saga do Papa-Capim. As intertextualidades com as narrativas indígenas e com outras histórias são uma das graças dessa releitura. O título, por exemplo, parece remeter à novela quase homônima de Dostoiévski, e há trechos do poema I-Juca Pirama (de Gonçalves Dias) no roteiro. É uma história que não foge do conceito do personagem

Orange (Takano Ichigo)

O mote é interessante: um grupo de amigos recebe cartas do futuro para tentar salvar Kakeru, um jovem que cometeu suicídio. Todo o interesse termina no plot, porque o desenvolvimento da história é horroroso. O leitor, que acompanha a saga durante 5 volumes, se deparará com uma explicação extremamente tosca para justificar como essas cartas viajaram no tempo. Além disso, são quase mil páginas de mimimi amoroso. "Oh, ele encostou na minha mão" e outras neuras adolescentes absurdamente melosas, chatas, nhémnhémnhém. O final deixa a desejar também, combinando com todo o resto - ao menos nisso, a obra tem unidade.

Hinário Nacional (Marcelo Quintanilha)

Conheci o autor por meio do livro Tungstênio, e não gostei. Apesar de o traço ser bastante único e de a narrativa usar técnicas cinematográficas interessantes, como um todo o enredo é forçado e pouco instigante. Ao dar uma segunda chance para o quadrinista em "Hinário Nacional", consegui redimi-lo da minha lista de autores destinados ao limbo. Ao contrário de "Tungstênio", aqui temos cinco histórias independentes ao invés de uma narrativa única. Ainda que a qualidade seja desigual, as três narrativas maiores (que são também as mais bem construídas) garantem os devidos créditos ao livro.  Talvez as duas tramas mais curtas sejam igualmente interessantes e eu seja quem não as tenha compreendido bem. Afinal, um dos pontos fortes desta obra é o uso de metáforas complexas, que podem ter tornado as duas micronarrativas um tanto herméticas. De modo geral, todas as histórias falam da perda, do sofrimento, das classes mais pobres, dos problemas familiares. O tom de