Ah, Florbela... apesar do tom às vezes demasiado romântico, da melancolia suicida, dos temas um tanto redundantes, ainda é uma das minhas poetas preferidas. Se só o fato de ser mulher e assumidamente escritora já a coloca em uma posição de destaque no início do século XX, a sensualidade que emana de seus versos é ainda mais corajosa. Ou, como diriam os grandes pensadores contemporâneos, são poesias que fazem o recalque passar longe.
Ainda que nem todos os poemas tenham a mesma profundidade, este livro não deixa de ser incrível. Trata-se, de fato, de uma obra desigual, mas nem por isso menos legítima.
Trechos:
Quem sabe se este anseio de eternidade,
A tropeçar na sombra, é a verdade,
É já a mão de Deus que me acalenta?
***
São os teus braços
dentro dos meus braços:
Via Láctea fechando o Infinito!
***
Ser a moça mais linda do povoado,
Pisar, sempre contente, o mesmo trilho,
Ver descer sobre o ninho aconchegado
A bênção do Senhor em cada filho.
Um vestido de chita bem lavado,
Cheirando a alfazema e a tomilho…
Com o luar matar a sede ao gado,
Dar às pombas o sol num grão de milho…
Ser pura como a água da cisterna,
Ter confiança numa vida eterna
Quando descer à “terra da verdade”…
Meu Deus, dai-me esta calma, esta pobreza!
Dou por elas meu trono de Princesa,
E todos os meus Reinos de Ansiedade.
***
Tens sido vida fora o meu desejo
E agora, que te falo, que te vejo,
Não sei se te encontrei, se te perdi...
***
Ser poeta (...) é condensar o mundo num só grito!
***
E se um dia hei de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...
***
O amor dum homem? Terra tão pisada!
Gota de chuva ao vento baloiçada...
Um homem? - Quando eu sonho o amor dum deus!
***
Abre os olhos e encara a vida! A sina
Tem que cumprir-se! Alarga os horizontes!
Por sobre lamaçais alteia pontes
Com tuas mãos preciosas de menina.
Nessa estrada da vida que fascina
Caminha sempre em frente, além dos montes!
Morde os frutos a rir! Bebe nas fontes!
Beija aqueles que a sorte te destina!
Trata por tu a mais longínqua estrela,
Escava com as mãos a própria cova
E depois, a sorrir, deita-te nela!
Que as mãos da terra façam, com amor,
Da graça do teu corpo, esguia e nova,
Surgir à luz a haste duma flor!...
Ainda que nem todos os poemas tenham a mesma profundidade, este livro não deixa de ser incrível. Trata-se, de fato, de uma obra desigual, mas nem por isso menos legítima.
Trechos:
Quem sabe se este anseio de eternidade,
A tropeçar na sombra, é a verdade,
É já a mão de Deus que me acalenta?
***
São os teus braços
dentro dos meus braços:
Via Láctea fechando o Infinito!
***
Ser a moça mais linda do povoado,
Pisar, sempre contente, o mesmo trilho,
Ver descer sobre o ninho aconchegado
A bênção do Senhor em cada filho.
Um vestido de chita bem lavado,
Cheirando a alfazema e a tomilho…
Com o luar matar a sede ao gado,
Dar às pombas o sol num grão de milho…
Ser pura como a água da cisterna,
Ter confiança numa vida eterna
Quando descer à “terra da verdade”…
Meu Deus, dai-me esta calma, esta pobreza!
Dou por elas meu trono de Princesa,
E todos os meus Reinos de Ansiedade.
***
Tens sido vida fora o meu desejo
E agora, que te falo, que te vejo,
Não sei se te encontrei, se te perdi...
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Ser poeta (...) é condensar o mundo num só grito!
***
E se um dia hei de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...
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O amor dum homem? Terra tão pisada!
Gota de chuva ao vento baloiçada...
Um homem? - Quando eu sonho o amor dum deus!
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Abre os olhos e encara a vida! A sina
Tem que cumprir-se! Alarga os horizontes!
Por sobre lamaçais alteia pontes
Com tuas mãos preciosas de menina.
Nessa estrada da vida que fascina
Caminha sempre em frente, além dos montes!
Morde os frutos a rir! Bebe nas fontes!
Beija aqueles que a sorte te destina!
Trata por tu a mais longínqua estrela,
Escava com as mãos a própria cova
E depois, a sorrir, deita-te nela!
Que as mãos da terra façam, com amor,
Da graça do teu corpo, esguia e nova,
Surgir à luz a haste duma flor!...
***
Nota: 8,5
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