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Poemas - Lírica Portuguesa e Tupi (José de Anchieta)

A imagem que me vem à mente ao pensar no período colonial do Brasil é a da exploração - índios dizimados, populações ameaçadas, imposição da cultura portuguesa etc. Assim, um escritor dessa época - ainda mais um jesuíta posteriormente canonizado - é algo que desperta a minha desconfiança antes mesmo de começar a primeira página de leitura.

No entanto, apesar do meu receio, o organizador da coletânea de poemas conseguiu me convencer de que, afinal, Anchieta poderia ter sido muito pior, principalmente levando o contexto em consideração. Eduardo Navarro, responsável pela antologia, é um professor renomado no estudo das línguas indígenas no Brasil. Por fazer da cultura nativa brasileira o seu objeto de estudo, um elogio seu à figura do padre tem um peso muito maior.

A breve biografia do "apóstolo brasileiro" contém dados interessantíssimos, que eu sequer imaginava. Dos seus poemas, apesar da temática repetitiva, uma ou outra estrofe se salva pela qualidade literária. Por fim, a parte dedicada à conversão indígena ao catolicismo é um documento histórico importante. No caso de Anchieta, particularmente, fiquei com a impressão de que ele realmente acreditava que sua missão era salvar os indígenas do inferno por meio da nova fé. Ainda que, de uma forma ou outra, essa postura seja impositiva, também há que se considerar os poemas antiescravagistas de sua autoria antes de traçar um juízo definitivo sobre essa figura histórica tão simbólica no Brasil.







Comentários

  1. Olá!

    Interessante análise. Tu, que leste o livro, poderias me dizer se o livro contém poemas exclusivamente em português ou se os originais em tupi também estão presentes?

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