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David Copperfield (Charles Dickens)

Romance vitoriano, David Copperfield atende às características da literatura da época: conflitos morais, personagens que lidam com dificuldades econômicas, exaltação do trabalho, oposição entre classes sociais, entre outras. Ademais, como grande obra de gênio, vai muito além das prerrogativas de seu tempo.




Ainda no prefácio, temos acesso a uma declaração do autor afirmando que Copperfield é o seu romance (e personagem) favorito. Essa preferência não é de surpreender, considerando os vários traços biográficos presentes no romance; o protagonista é considerado, por muitos, como uma espécie de alter ego de Dickens.

Obra de fôlego, com cerca de 1300 páginas, retrata o período de formação do personagem, desde o nascimento até à vida adulta. Ainda que tenha sido acusado de superficialidade e idealização, o romance conquistou fãs do calibre de Virginia Woolf e Dostoiévski (que o leu na prisão).

Se há um elemento que talvez justifique a imortalidade desta narrativa, provavelmente ele recai sobre a escrita vigorosa e poética de Dickens. Há trechos que beiram a prosa poética, outros que trabalham com recursos quase cinematográficos (em uma era muito anterior à sétima arte), metáforas tocantes e a construção de personagens, que, ainda que falhos, são cativantes. A trama, em si, é interessante, mas de nada valeria sem estar intrinsecamente vinculada ao modo de narrar do escritor e à criação de vidas tão parecidas com as nossas.









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