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A vida é bela (filme de 1998)

Desde o título, "A vida é bela" é um filme amoroso. Os personagens são construídos para serem cativantes, reunindo em si todos os elementos que causam a simpatia imediata do espectador: o humor leve do pai, a inocência da criança, a entrega e o sacrifício da mãe. Inscritos no gênero da comédia, esses protagonistas parecem mais verossímeis, e os maniqueísmos são relevados em função do gênero. Afinal, é uma trama feita para encantar - uma espécie de conto de fadas sobre o nazi-fascismo.

Ainda que, como espectadora, tenha me deixado levar pela história comovente representada, algumas reflexões mais sérias pipocaram durante a exibição. Não consigo avaliar até que ponto concordo ou não com as escolhas ideológicas do filme. Ainda que seja senso comum que todas as histórias cruéis sobre a Segunda Guerra já foram narradas, a verdade é outra. Evitamos o lado real e mais desumano dos crimes perpetrados nessa época em prol de relatos comoventes e de superação. E tanto já nos esquecemos desses crimes que o movimento que prega que o holocausto nunca ocorreu é cada vez mais forte. 

O sentido de recontarmos as grandes tragédias humanas é tentar evitar que elas se repitam. Disfarçadas sob um verniz de humor e sob um discurso de otimismo, muito desse significado se perde. "A vida é bela" tenta passar a ideia de que sempre há uma opção, uma história melhor a ser vivida e contada. Infelizmente, por ser inspirado em fatos reais, o seu mote acaba sendo pouco verossímil. Assim como não se deve suavizar uma história de estupro, de escravidão ou de assassinato de crianças, não parece justo romantizar o descarte de 6 milhões de seres humanos. A vida ficcional pode ser bela - mas a realidade não o é.



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