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Caminhos Cruzados (Erico Verissimo)

Erico Verissimo é um cânone da literatura brasileira: muitas publicações, presença nos livros didáticos de língua portuguesa, adaptação para séries e filmes. No entanto, apesar de alguns livros na minha estante (todos ganhados de presente), era um autor do qual nunca tinha lido nada - se não me engano, nem uma única linha. Não consigo definir o que me deixou afastada tanto tempo da escrita do autor sulista, mas é preciso correr atrás do prejuízo. O texto fluente e mordaz de Verissimo me fisgou, e não vejo a hora de ler e conhecer mais do autor.





Caminhos cruzados é uma narrativa com estrutura bastante moderna: personagens diversos são os protagonistas da obra, sem que suas histórias se cruzem necessariamente entre si. Ao optar por apresentar uma miríade de vivências ao leitor, Verissimo oferece um panorama bastante rico da vida em Porto Alegre no início do século XX.

A ampla gama de personagens gera identificação ou reconhecimento de caracteres alheios em muitos deles: quem nunca teve uma vizinha pessimista, que só sabe falar de doenças e velório? Ou quem nunca conheceu (ou foi) um apaixonado por livros, capaz de empenhar todo o seu dinheiro em busca das fantasias livrescas? Os protagonistas da trama, sem serem estereotipados, refletem bem muitos traços de personalidade comuns na nossa realidade.

Outro ponto interessante da obra é ver como os personagens se definem pelas leituras que fazem (ou deixam de realizar): a madame carola que lê hagiografias, o desesperadamente pobre que foge da realidade por meio de livros de aventuras, o empresário que finge ler os clássicos diante da sociedade (mas que gosta mesmo é de um bom best seller)... Dessa forma, dá para se afirmar que, além de tudo, Verissimo fez um livro sobre leituras e literatura - um prato cheio para qualquer um que viva entre as linhas dos textos.






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