O jornalismo sensacionalista é muito mais do que apenas um veículo para a satisfação de nossas curiosidades mais mórbidas; é uma indústria, e, como tal, lida com funcionários, concorrência e uma ética muito própria no trabalho.
Este é o foco do filme "O abutre", estrelado por Jake Gyllenhaal: um retrato de como são geradas e popularizadas as notícias sobre crimes, acidentes e tragédias em geral. O grande mérito da obra em sua abordagem é centralizar a narrativa em um personagem que, apesar de causar uma certa simpatia (ou ao menos empatia) no espectador, é um sociopata.
Com o foco no anti-heroísmo, passa-se boa parte do filme na torcida pelo protagonista - ainda que seus atos sejam moralmente reprováveis. A ideia de trabalhar duro em algo que se ama (e ser bem pago por isso) parece abafar alguns traços muito mais graves de caráter do personagem principal. Só a profissão adotada por ele (filmar tragédias recém-ocorridas) já dá uma boa pista sobre os gostos e preferências deste complicado perfil humano.
Caprichando na atuação, Gyllenhaal consegue dirigir a atenção do espectador para si, auxiliado por uma boa fotografia e trilha sonora que acompanha os sentimentos do protagonista. No entanto, não é esta a grande problemática da obra; se os abutres existem, é porque há uma grande indústria que os motiva e paga seus salários. E se essa indústria existe, é para atender aos gostos do espectador - que se deleita tanto com uma manchete sangrenta quanto com esta produção cinematográfica.
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