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Niétotchka Niezvânova (Doistoiévski)

"Niétotchka Niezvânova" marca uma fase crucial na biografia de Dostoiévski - é o romance ao qual o autor se dedicava antes de ser preso pelo regime czarista, ameaçado de fuzilamento e forçado a trabalhar na Sibéria. Incompleto, hoje o livro é considerado uma novela por muitos críticos - apesar da complexidade de seus núcleos de personagens.

Inicialmente subtitulado "História de uma mulher", ao que tudo indica o projeto inicial da obra era constituir-se em uma obra de formação. No entanto, no universo de Dostoiévski nenhuma classificação dá conta do enredo; caso fosse terminado, provavelmente o romance teria uma protagonista feminina (o que não era usual no gênero) e, talvez, um relacionamento lésbico...

O livro traz temas cabeludos, antecipando Freud em alguns bons anos. Além da relação doentia da protagonista com o padrasto (incluindo o desejo de morte da mãe), há um envolvimento amoroso com outra menina em plena infância. Beirando o inverossímil, a obra parece causar mais choque no leitor de hoje do que no do século XIX: afinal, dentre seus críticos, poucos deram relevância aos beijos trocados por duas garotinhas de 8 anos.

Acompanhamos Niétotchka ao longo de 3 relações de submissão: ao padrasto, à amiga/afeto Kátia e, por fim, à literatura. A última fase, em que a protagonista é dominada (e simultanemente empoderada) pelos livros é bastante instigante, a ponto de quase compensar a frustração da falta de closure da história. 




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