Meu primeiro contato com literatura iraquiana, "Frankenstein in Baghdad" tem uma das premissas mais incríveis com que já tive contato: o mote da história é contar como um mascate, desejoso de dar um enterro digno aos corpos estilhaçados encontrados aos montes durante a invasão do Iraque pelos EUA, constrói um Frankenstein - que, curiosamente, ganha vida.
O boneco de carne pútrida que estrela a obra nasce sem saber quais seus objetivos, razões, o porquê de ter voltado à vida. Alegoria tremenda da guerra, nos faz confrontar seus mais escusos motivos: é uma busca por justiça? Um confronto entre ideologias e religiões distintas? A busca de poder e dominação sobre a maioria do povo de um país?
Ainda que se perca um pouco na criação de um número ostensivo de personagens e narrativas paralelas, o livro vale muito pelo seu viés reflexivo e pelo contato que nos proporciona com o outro lado da guerra, o qual nunca escutamos - o dos vencidos. Além do mais, o final aberto (e incrivelmente ambíguo) que Ahmed Saadawi cria para a sua narrativa é impactante e apenas amplia a discussão sobre a destruição humana e moral que conflitos bélicos causam.
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