Pular para o conteúdo principal

Makers, a nova revolução industrial (Chris Anderson)

Livros que trabalham as novas tecnologias tendem a ficar rapidamente defasados - no entanto, ainda que publicada em 2012, a obra de Chris Anderson consegue sustentar o interesse do leitor quase uma década depois. Um dos motivos que levam a esse resultado é o fato de a obra trabalhar com prospectos para o futuro próximo (alguns dos quais já se concretizaram). Assim, mesmo que não se trate de um livro isento à passagem do tempo, tem um prazo de expiração um pouco maior.

O panorama construído pelo autor é muito interessante pelo fato de ser calcado na história. Dessa forma, a metodologia maker não é analisada como uma grande inovação recente da humanidade, mas sim como um processo que já existia e que ganhou forte apoio das tecnologias.

O autor abstém-se de tocar em alguns pontos polêmicos - como a substituição do homem pela máquina e o uso de mão de obra escravizada -, mas não chega a maquiar a realidade. Em algumas passagens, deixa claro ao leitor por que acredita na revolução maker, ainda que saiba que ela tenha sim suas desvantagens. 

Ao elencar os motivos que sustentam sua confiança nesse novo modus operandi, o autor constrói um panorama de futuro bastante utópico, mas fundamentado em princípios democráticos - como o livre acesso em lugar da exclusividade das patentes. No mundo sombrio em que vivemos, é uma esperança a mais na qual queremos acreditar.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Armandinho 1, 2 e 3 (Alexandre Beck)

O personagem de cabelo azul já ganhou apelidos que o aproximam dos famosos Calvin e Mafalda. No entanto, o toque brasileiro é que faz a diferença e aproxima Armandinho de seus leitores. O garotinho, que não gosta muito da escola, mostra que a sabedoria vai muito além dos bancos da sala de aula. Desde questões políticas específicas - do Brasil ou de Santa Catarina - até piadas simples sobre assuntos cotidianos, a força das suas tirinhas reside também na versatilidade. O ponto de vista infantil nos serve de guia nesses quadrinhos, nos quais os adultos aparecem sempre retratados sob o viés da criança. Para comprovar esse fato, basta observar o traço: assim como na clássica animação dos Muppets, apenas as pernas dos personagens mais velhos são desenhadas. Se a semelhança com Mafalda está no aspecto irreverente (e nos cabelos que são marca registrada), com Calvin o parentesco vai além: em muitas das tirinhas, Armandinho aparece com seu bicho de estimação (um sapo que, inclusi...

Desolación (Gabriela Mistral)

Livro de estreia da poetisa Gabriela Mistral (que viria a ser a primeira latina a ganhar o prêmio Nobel) "Desolación" anuncia a que vem pelo título: é uma obra desoladora. É tamanha a falta de perspectiva que, ao final, há um posfácio curto da autora em que ela diz: "Deus me perdoe este livro amargo - e aqueles que sentem que a vida é doce, que me perdoem também". Com muitos elementos autobiográficos (tão típicos do gênero), há o reflexo, nos poemas, das muitas turbulências que a poeta enfrentou em seus anos de juventude. Apaixonada por um homem comprometido, viu o fim abrupto deste relacionamento quando seu par suicidou-se. Católica com ardor, enfrenta dilemas constantes entre suas crenças religiosas e as muitas desgraças que a vida lhe impõe. Ademais, escritora com sangue indígena, é vítima de preconceito tanto por sua cor quanto por sua condição de mulher. A obra é dividida em quatro partes: vida, dolor, escuela e naturaleza. As duas primeiras refletem m...

Cartas a um jovem poeta (Rainer Maria Rilke)

Esse é um daqueles livros que de tão recomendados, citados, comentados, já parecem ter sido lidos antes mesmo da primeira virada de página. Tinha uma visão consolidada de que o tema desta obra eram os conselhos que um escritor pode passar a outro - e não imaginava que, antes de tudo, essas cartas são uma espécie de manual para a vida. Tão necessário, aliás. Rilke se ancora na literatura, mas passeia por caminhos diversos: a solidão, a escolha da mulher, as amizades, os valores morais de cada um... Como um mestre frente a seu discípulo, o escritor o guia pela mão através do mundo. Nem sempre os seus ensinamentos são indiscutíveis. Há material que sobra, existem conselhos deixados de fora. Mas, superando seus pequenos deslizes como filósofo, Rilke se apoia na força das palavras. Seu discurso é uma torrente que nos leva, com um vigor romântico contagiante. Trechos: Uma única coisa é necessária: a solidão. A grande solidão interior. Ir dentro de si e não encontrar ninguém durante h...