Ainda que 2020 pareça ter entrado em uma espécie de loop, em que todos os dias se repetem com tragédias em doses semelhantes, o fato é que o tempo continua seu usual fluxo. E agora, quando mais da metade do ano se passou, já consigo ter um panorama prévio do que significará rever esse tempo em retrospectiva. No campo das leituras, foi uma época de descobertas de muitos poetas favoritos.
Após o chileno Nicanor Parra, outra voz latina veio somar-se à minha lista de autores mais queridos. Com um tom bem diferente do de Parra (menos irônico, mais político), Mario Benedetti me arrebatou igualmente.
Talvez a escolha do livro tenha sido certeira, em um tempo em que os dias se fazem iguais no mesmo ambiente. Em "Cotidianas", o uruguaio resgata os pequenos prazeres e vicissitudes que constroem o dia a dia de uma vida. Não são grandes os gestos exaltados, mas tampouco é uma poesia que exalta o insignificante (como a de Manoel de Barros). A poética de Benedetti se aproxima mais a uma lupa sobre o cotidiano, uma pausa sobre o calendário – para nos lembrar que, não importa como, o tempo ainda passa.
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