Nunca havia lido nada de Pamuk, e foi interessante conhecer sua prosa por meio de um livro que dialoga tão fortemente com as mitologias ocidental e oriental. Calcado na obsessão de seu protagonista, o livro recorre às lendas de Édipo Rei (grega) e de Rostam e Sohab (turca), criando uma ponte entre narrativas distantes que trabalham com o mesmo princípio: o pai destinado a matar o filho e o filho destinado a matar o pai.
Outra aproximação possível entre as culturas do lado leste e oeste do mundo se dá conforme o autor vai descrevendo o processo de urbanização de Istambul. Enquanto o começo do livro parece situado em um ambiente muito distante do nosso (com a figura de um artesão de poços e artistas circenses no meio do deserto), aos poucos os elementos vão se imiscuindo à nossa própria cultura: no final do romance, já nos deparamos com a industrialização e a tecnologia de massas, que tiram muitas das peculiaridades de cada povo tradicional.
O estilo de Pamuk me lembrou um pouco o de Haruki Murakami: sua escrita é extremamente fluida e nos fixa à narrativa. Ainda que eu prefira uma prosa mais poética, fiquei bastante intrigada pelo modo como o escritor consegue fechar a sua história, sem deixar ponto sem nó. É um livro com uma trama muito bem pensada e construída de forma concreta e circular... assim como o poço que motiva boa parte da história.
Comentários
Postar um comentário