A história do corpo embalsamado de Evita é impressionante: como Branca de Neve, a proposta é que a populista argentina ficasse exposta em um mausoléu, que nunca chegou a ser construído (em função da ditadura militar). Quando os milicos assumiram o poder, seu corpo foi vigiado por um coronel e, depois, por um general — inclusive com a acusação de que teria sido violada por um deles.
Evita morta vai para o Vaticano; é exigida como troca em um um sequestro; é desenterrada e vista como um milagre pelos coveiros abismados; é enfeite na casa de Perón; é boneca nas mãos de Isabela Perón, que faz compras de roupas e renova seu figurino; é assombração, impedindo o general que a tinha anteriormente sob guarda de ocupar a mesma residência que ela; e, por fim, é enterrada no cemitério La Recoleta.
Uma narrativa tão potente tinha de tudo para render um filme bom — mas não é necessariamente o caso. Há uma tentativa forçada de incluir o astro Gael García Bernal em um papel bastante inverossímil, só para fazer uma ponta e garantir seus créditos na obra. Além disso, há um tom de teatro do absurdo que gera cenas mal explicadas e pouco aproveita a potencialidade do mote com que se trabalha — poderoso até a morte.
Vulgarizado após a criação dos reality shows , o livro de George Orwell se tornou um daqueles clássicos que todos comentam e que ninguém leu. Qualquer um quer falar com propriedade do Grande Irmão, da sociedade vigiada, mas todos esses clichês não chegam perto do clima opressor que o autor impõe à sua narrativa. 1984 é uma obra provocativa e premonitória. Ainda que as ditaduras não tenham obtido o poder previsto pelo escritor (pois se travestiram de democracia), os cenários descritos são um retrato mordaz dos nossos tempos modernos. Um exemplo: para entreter a grande massa (os "proles"), o governo do Grande Irmão tem em seu poder máquinas que criam letras de músicas de amor aleatoriamente. Essas canções, desprovidas de essência humana, são entoadas pelo povo e logo se tornam o ritmo do momento. E assim se revela mais um dos inúmeros meios de controlar uma população que não pensa, não critica e não questiona. Quando foi escrito, 1984 era uma obra futurística. Lido h...
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