Sem o ter planejado, li Na natureza selvagem justamente quando o livro comemora 25 anos de seu lançamento. Essa coincidência me deu chance de assistir a eventos comemorativos, em que Jon Krakauer pondera sobre o peso dessa produção com um distanciamento de um quarto de século. Assim, ver o autor já maduro explicar sua obra foi uma chance de não arrastar um certo ranço que fica de seu caráter impetuoso de narrador/jornalista um tanto arrogante.
O trabalho ofertado aos leitores é, de fato, sensacional – com quase nada de documentos e fontes, o escritor consegue reconstruir a rota de Chris McCandless de forma verossímil e bastante apurada. Além disso, os paralelos traçados com a vida do próprio jornalista são enriquecedores para repensar tudo o que está envolvido na rota do viajante: juventude e inexperiência mesclados a uma urgência de fazer que o mundo tenha sentido.
Durante a leitura, me ocorreram outros paralelos possíveis com o personagem: seu desapego e peregrinação têm algo de um Buda, de um Cristo, de uma figura santificada. Já sua paixão pelos livros é a de um Quixote ressuscitado. Não parece, assim, desprovido de sentido que o seu fim tenha sido quase o de um mártir.
Quanto ao filme, gostei muito mais de revê-lo agora (sete anos depois de meu primeiro contato com a produção). Talvez após ter viajado mais pelo mundo – e de sentir, mais do que nunca, a importância de tê-lo feito antes de uma pandemia – a necessidade de abrir mão de tudo para percorrer os próprios caminhos me pareça mais importante do que nunca. E as cenas belíssimas, a trilha sonora incrível e a atuação impetuosa do personagem principal só ajudam a reforçar esse desejo.
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