Pular para o conteúdo principal

Os 3 idiotas (filme de 2009)

"Os 3 idiotas" conta a aventura de 2 amigos que saem em busca de Rancho, um ex-colega de escola. Durante o enredo, a história de amizade dos 3 idiotas é reconstruída através de flasbacks, e aos poucos vamos entendendo o motivo da procura de Rancho, personagem incrivelmente cativante. Difícil rotular este filme como comédia ou qualquer outro gênero. 

Assim como a vida, os filmes dirigidos por Aamir Khan são multifacetados: passamos do riso ao choro durante uma mesma cena. Na mistura de gêneros em uma mesma obra, contamos também com a participação de pequenos clipes musicais, que são bem construídos e intrinsecamente relacionados não só ao enredo principal como à própria cultura indiana. 

Colorido, agradável, triste, profundo, leve, divertido, emocionante - todos esses adjetivos se aplicam à obra, que consegue agradar mantendo suas características próprias. O cinema de Bollywood surpreende pela sua qualidade e por sua resistência a ser apenas uma cópia oriental do cinema norte-americano. Marcado pela tradição e pela cultura da Índia, o filme consegue ser uma lição universal sem ter de se deslocar do seu local de origem. Uma obra com potencial para nos divertir, entreter e ensinar - as considerações sobre o sistema de ensino e sobre a alta taxa de suicídio entre jovens são muito bem desenvolvidas e articuladas à história principal. Um filme diferente... e, por isso mesmo, com possibilidade de agradar a gregos e troianos.

Nota de rodapé: desta última vez, duas cenas me incomodaram no filme. A primeira é uma brincadeira com estupro em uma sala repleta de homens. A segunda é fazer graça com doença e paralisia.




Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

1984 (George Orwell)

Vulgarizado após a criação dos reality shows , o livro de George Orwell se tornou um daqueles clássicos que todos comentam e que ninguém leu. Qualquer um quer falar com propriedade do Grande Irmão, da sociedade vigiada, mas todos esses clichês não chegam perto do clima opressor que o autor impõe à sua narrativa. 1984 é uma obra provocativa e premonitória. Ainda que as ditaduras não tenham obtido o poder previsto pelo escritor (pois se travestiram de democracia), os cenários descritos são um retrato mordaz dos nossos tempos modernos. Um exemplo: para entreter a grande massa (os "proles"), o governo do Grande Irmão tem em seu poder máquinas que criam letras de músicas de amor aleatoriamente. Essas canções, desprovidas de essência humana, são entoadas pelo povo e logo se tornam o ritmo do momento. E assim se revela mais um dos inúmeros meios de controlar uma população que não pensa, não critica e não questiona. Quando foi escrito, 1984 era uma obra futurística. Lido h...

As três Marias (Rachel de Queiroz)

Protagonistas femininas para um romance escrito por uma mulher - uma mudança de perspectiva tão necessária em meio a esses nossos cânones machistas. Rachel de Queiroz é escritora de mão cheia, e não se deixa vender ao estereótipo de moça que escreve para relatar seus conflitos pessoais. Sua obra é social, intensa, mas sem diminuir o interesse psicológico de seus personagens. Trechos: "A gente pensa que a infância ignora os dramas da vida. E esquece que esses dramas não escolhem oportunidade nem observam discrição, exibem-se, nus e pavorosos, aos olhos dos adultos e aos dos infantes, indiferentemente." "-Conheça o teu lugar, minha filha.. (Isto é: 'Pense em quem é você, na mãe que lhe teve, mulher sem dono e sem lei, que lhe largou à toa, criada por caridade. A vida se mostra, à sua frente, bela, sedutora, iluminada. Mas, para você, é apenas uma vitrina: não estenda a mão, que bate no vidro; e não despedace o vidro; você sairá sangrando... Contente-se ...

Cartas a um jovem poeta (Rainer Maria Rilke)

Esse é um daqueles livros que de tão recomendados, citados, comentados, já parecem ter sido lidos antes mesmo da primeira virada de página. Tinha uma visão consolidada de que o tema desta obra eram os conselhos que um escritor pode passar a outro - e não imaginava que, antes de tudo, essas cartas são uma espécie de manual para a vida. Tão necessário, aliás. Rilke se ancora na literatura, mas passeia por caminhos diversos: a solidão, a escolha da mulher, as amizades, os valores morais de cada um... Como um mestre frente a seu discípulo, o escritor o guia pela mão através do mundo. Nem sempre os seus ensinamentos são indiscutíveis. Há material que sobra, existem conselhos deixados de fora. Mas, superando seus pequenos deslizes como filósofo, Rilke se apoia na força das palavras. Seu discurso é uma torrente que nos leva, com um vigor romântico contagiante. Trechos: Uma única coisa é necessária: a solidão. A grande solidão interior. Ir dentro de si e não encontrar ninguém durante h...