Livro de estreia da famosa (e incógnita) autora italiana, “Um amor incômodo” me surpreendeu. Já esperava a escrita viciante e uma narradora feminina perturbada, marcas tão próprias da sua obra – mas não contava ver esses elementos tão bem desenvolvidos logo na primeira publicação de Ferrante.
Com foco na relação conflituosa de uma filha com sua mãe já falecida, o romance propõe uma reconstrução da figura materna pelo olhar enviesado da narradora em primeira pessoa. O efeito é sensacional, com a criação de uma personagem absolutamente enigmática e para sempre incompreendida. Há algo nessa elaboração que me lembrou da Capitu feita pelo olhar de Bentinho, à qual o leitor nunca terá acesso pleno.
As descrições são outro espetáculo. Por mais que a escrita de Ferrante seja direta, conduzindo-nos ao núcleo da ação, há espaço para reflexões profundas e inquietantes. É como se a violência que permeia as relações familiares reverberasse nas palavras que tentam descrever esses elos confusos de amor e ódio. Além de tudo isso, o fato de tanto o começo quanto o final da obra serem abertos, sem chegar a soluções conciliadoras sobre os mistérios do enredo, só torna a obra mais instigante.
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