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A revolução dos bichos (George Orwell)

O livro traz um dos motes que mais me pertubam: como o homem (ou, neste caso, o porco), pouco a pouco, vai sendo corrompido pelo meio e o quanto uma sociedade ideal é uma utopia impossível.

Após constatarem todos os sofrimentos pelos quais passavam na fazenda, os animais decidem fazer a revolução e expulsar o homem. Nesta fábula bastante moderna e sem moral, os bichos agem, em princípio, de maneira idealista, buscando construir um cenário no qual não só o homem, mas também os maus tratos não participem.

Por ser tão vago, o conceito de "sociedade ideal" paradoxalmente gera a discórdia entre os animais, notadamente os porcos, que assumem o poder após a saída do fazendeiro. E, assim, o que era para ser um espaço de justiça se torna um ambiente tão opressor quanto o criado pelo homem.

É um livro chocante, necessário. Afinal, nada melhor para compreender nossa sociedade do que descer até o chiqueiro.

Nota: 9,5

Trechos:

Todos os animais são iguais. Mas alguns animais são mais iguais que os outros.

(...) mas já se tornara impossível distinguir quem era homem de quem era porco.



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