Não só as histórias dos estudantes entrevistados, mas também o contexto desse filme dirigido por Eduardo Coutinho é trágico. O cineasta, após o segundo dia de gravação, foi assassinado a facadas pelo filho, que possuía sérios distúrbios mentais. Assim, essa obra é um legado do diretor, marcada pelo tom desesperançado.
A ideia do documentário se baseia na máxima "uma ideia na cabeça, uma câmera na mão". O cenário (constituído por uma cadeira e uma porta), o ângulo monótono de filmagem, o trabalho quase nulo com as cores, a ausência de trilhas sonoras ou legendas dão o tom do longa, que é de estrutura simples - e esta, por sua vez, esconde um tema bastante complexo.
Graças à empatia instantânea de Coutinho, os jovens entrevistados vão aos poucos revelando seus segredos e históricos familiares, permeados de histórias de violência, separação e/ou abandono dos pais, insucesso escolar, bullying, ideias de suicídio, religiosidade vista como salvação, diversidade sexual, pertencimento a diferentes tribos urbanas... São poucas as entrevistas, mas o mosaico humano criado é de uma profundidade tocante.
Muito se discute sobre os caminhos da educação brasileira sem o conhecimento da escola real, aquela que professores e alunos encaram no dia a dia. Ao contrário do conceito de que são centros divulgadores do conhecimento, os colégios públicos, muitas vezes, estão estruturados sobre bases frágeis em um contexto de violência, abandono e incompetência administrativa. Alunos e professores, que trazem carências profundas, não encontram na escola um território de acolhida - o que explica a evasão, por parte dos discentes, e a desilusão, pelos docentes.
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