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Banksy (Guerra e Spray)

Já conhecia muitos trabalhos de Banksy por meio de reproduções na internet, mas nunca tinha me dado conta de que, além da estética, seu modo de fazer arte é também revolucionário. O artista britânico tem um discurso coerente com as suas ações, e desconstrói discursos na prática, não apenas na teoria.



Uma das ideias mais interessantes que o livro traz é a legitimidade de rabiscarmos qualquer parede em um mundo em que outdoors nos são impostos arbitrariamente, invadindo nosso dia a dia com incentivos a uma cultura essencialmente consumista. Se as grandes empresas podem exibir seus discursos em letras grandes pelas cidades, por que os grafiteiros não o poderiam também?




Outro dos pontos fortes da obra são as cenas que mostram o artista, sorrateiramente, pendurando quadros de seus grafites em museus como o Louvre e o Metropolitan, como maneira de questionar a elitização da arte.



Além de ser um livro excelente sobre arte, é um livro que desperta nossa reflexão sobre o mundo absurdo em que vivemos e que também nos faz dar muitas risadas. A marca de Banksy é a irreverência, e é muito difícil não nos deixarmos levar pelo humor de suas intervenções.




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