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Retrato do artista quando jovem (James Joyce)

Eu gosto de personagens de bom e de mau caráter - sou tão fisgada pela leitura de um atormentado Raskolnikov quanto pela de um sonhador Dom Quixote. No entanto, não me apresentem arquétipos daquele que está perdido na vida, em fuga sem saber para onde, rebelde sem causa. Não tenho paciência com Holden Caulfield e similares.

Em "Retrato de um artista quando jovem", somo introduzidos em uma história de vida desde o seu começo até a juventude - em suma, um romance de formação. O modo de narrar acompanha a maturidade de Stephen Dedalus, protagonista, o que torna as páginas da infância um tanto confusas, assim como o falar de um garotinho. Ao longo da narrativa, o fluxo de consciência não é propriamente difícil de acompanhar - só é chato.

O protagonista nunca sabe o que quer, e lemos páginas e páginas sobre quais as suas prioridades atuais na vida (que serão mudadas na semana seguinte). Um trecho do livro, especialmente entendiante, é quando o personagem decide se entregar completamente à religião como forma de se salvar dos pecados - é um excerto imenso só falando da ideia de Deus como aquele que vigia e pune os pobres mortais...

Foi meu primeiro Joyce, e não sei se me animaria a ter um segundo. Quem sabe em Ulisses, com a protagonista feminina forte, a narração não se torne mais interessante... porque aqui, nesta obra, há apenas o retrato de um chato quando jovem.





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