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A luta corporal (Ferreira Gullar)

A verdade é que pouco conheço de Ferreira Gullar, nomeado por alguns como nosso maior poeta vivo. Fora os poemas clássicos de livros didáticos (Uma parte de mim/ é todo mundo:/ outra parte é ninguém:/ fundo sem fundo; "O branco açúcar que adoçará meu café nesta manhã de Ipanema não foi produzido por mim nem surgiu dentro do açucareiro por milagre."), quase nada li do autor. Em parte, por causa de um infeliz texto seu, publicado na Folha, no qual o poeta afirma não haver a necessidade de rotular a literatura como branca ou negra - o que é fácil de defender quando se faz parte da minoria masculina e branca que publica no Brasil.




Disposta a me desfazer da birra pelo autor (afinal, quão poucos são os escritores que nos restariam tirados os preconceitos de todos os tipos), comprei a edição de toda a sua poesia, pela José Olympio. Começando pela ordem cronológica, me dediquei à leitura de "A luta corporal", livro de estreia datado de 1954. 

Há alguns poemas interessantes ao longo da obra, especialmente os de caráter metalinguístico. No entanto, em alguns poemas em prosa Ferreira se propõe a desconstruir a linguagem, criando páginas e páginas de textos absolutamente incompreensíveis. E vamos combinar que nos anos 50 brincar de vanguarda desconstrutora da linguagem tem mais cara de desculpa para não escrever algo que o valha do que o valor de uma ideia original. Para quem paga por um livro com quase um terço de leitura inválida, o sentimento é de frustração, apesar de alguns bons poemas.



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