Pular para o conteúdo principal

O mágico de Oz (livro de 1900 e filme de 1939)

Há uma tira em quadrinhos do argentino Liniers em que sua personagem Henriqueta, uma menina bastante curiosa sobre o mundo, está parada, em dúvida, em frente a uma estante de biblioteca. Quando questionada sobre o porquê de levar tanto tempo para escolher uma leitura, ela responde:"Os livros da infância são aqueles que nos marcam para sempre. É muita responsabilidade".

Tive boas leituras quando criança, bastante significativas para mim até hoje, e uma das que mais me marcou foi a coleção de O mágico de Oz. Não sei ao certo se a biblioteca da minha cidade dispunha de todos os livros da série, mas me lembro de ter ficado imersa um bom tempo na terra de Oz - uma espécie de Harry Potter do início do século XX, com 13 volumes de histórias lançados por L. Frank Baum.

Logo na apresentação da primeira das histórias, o autor diz que sua intenção, ao publicar um livro infantil, era ir na contramão da literatura feita para os pequenos na época - queria um enredo com nada de violência (como acontecia, por exemplo, nos contos de fadas na sua versão mais antiga). 




Apesar de soar puritano, o fato é que "O mágico de Oz" (tanto o livro quanto o filme) não seguem uma linha politicamente correta - e é nisso que reside boa parte de seu encanto. Na narrativa literária, os personagens, ainda que se preocupem uns com os outros, são bastante egoístas, focados na obtenção de seus objetivos. No filme, algumas cenas foram inclusive cortadas, tamanha era a maldade da bruxa (que poderia assustar as crianças).

Ainda que sejam bem diferentes entre si, o filme e o livro funcionam como complementos perfeitos - difícil julgar qual é o melhor na sua estrutura. O mundo de fantasia construído por L. Frank Baum, em uma história relativamente curta, foi adaptado de maneira genial para o cinema, com uma linguagem igualmente inovadora (foi um dos primeiros filmes em technicolor). Filme e livro para rever toda a vida.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

1984 (George Orwell)

Vulgarizado após a criação dos reality shows , o livro de George Orwell se tornou um daqueles clássicos que todos comentam e que ninguém leu. Qualquer um quer falar com propriedade do Grande Irmão, da sociedade vigiada, mas todos esses clichês não chegam perto do clima opressor que o autor impõe à sua narrativa. 1984 é uma obra provocativa e premonitória. Ainda que as ditaduras não tenham obtido o poder previsto pelo escritor (pois se travestiram de democracia), os cenários descritos são um retrato mordaz dos nossos tempos modernos. Um exemplo: para entreter a grande massa (os "proles"), o governo do Grande Irmão tem em seu poder máquinas que criam letras de músicas de amor aleatoriamente. Essas canções, desprovidas de essência humana, são entoadas pelo povo e logo se tornam o ritmo do momento. E assim se revela mais um dos inúmeros meios de controlar uma população que não pensa, não critica e não questiona. Quando foi escrito, 1984 era uma obra futurística. Lido h...

As três Marias (Rachel de Queiroz)

Protagonistas femininas para um romance escrito por uma mulher - uma mudança de perspectiva tão necessária em meio a esses nossos cânones machistas. Rachel de Queiroz é escritora de mão cheia, e não se deixa vender ao estereótipo de moça que escreve para relatar seus conflitos pessoais. Sua obra é social, intensa, mas sem diminuir o interesse psicológico de seus personagens. Trechos: "A gente pensa que a infância ignora os dramas da vida. E esquece que esses dramas não escolhem oportunidade nem observam discrição, exibem-se, nus e pavorosos, aos olhos dos adultos e aos dos infantes, indiferentemente." "-Conheça o teu lugar, minha filha.. (Isto é: 'Pense em quem é você, na mãe que lhe teve, mulher sem dono e sem lei, que lhe largou à toa, criada por caridade. A vida se mostra, à sua frente, bela, sedutora, iluminada. Mas, para você, é apenas uma vitrina: não estenda a mão, que bate no vidro; e não despedace o vidro; você sairá sangrando... Contente-se ...

Cartas a um jovem poeta (Rainer Maria Rilke)

Esse é um daqueles livros que de tão recomendados, citados, comentados, já parecem ter sido lidos antes mesmo da primeira virada de página. Tinha uma visão consolidada de que o tema desta obra eram os conselhos que um escritor pode passar a outro - e não imaginava que, antes de tudo, essas cartas são uma espécie de manual para a vida. Tão necessário, aliás. Rilke se ancora na literatura, mas passeia por caminhos diversos: a solidão, a escolha da mulher, as amizades, os valores morais de cada um... Como um mestre frente a seu discípulo, o escritor o guia pela mão através do mundo. Nem sempre os seus ensinamentos são indiscutíveis. Há material que sobra, existem conselhos deixados de fora. Mas, superando seus pequenos deslizes como filósofo, Rilke se apoia na força das palavras. Seu discurso é uma torrente que nos leva, com um vigor romântico contagiante. Trechos: Uma única coisa é necessária: a solidão. A grande solidão interior. Ir dentro de si e não encontrar ninguém durante h...