Pular para o conteúdo principal

O diário de Helga (Helga Weiss)

O diário de Anne Frank, cujas vendas foram reacesas recentemente em função do best-seller A culpa é das estrelas, muitas vezes é tratado como a única obra de registro do Holocausto - sendo que Anne só pode escrever enquanto vivia escondida no porão da casa de amigos. Sua história é uma dentre milhões - seis milhões de assassinados nos campos de concentração, dos quais a maioria era composta de idosos, mulheres e crianças. Assim, urge resgatar as publicações e registros de tantas pessoas que sofreram na pele os desmandos de Hitler.




Assim como Anne, Helga era uma criança quando foi enviada aos campos de concentração. Inicialmente transportada a Terezín, viveu durante algum tempo em um campo voltado principalmente para crianças, que eram aproveitadas como força de trabalho. Este lugar foi "maquiado" durante algum tempo pelo governo nazista, de modo a enganar a Cruz Vermelha e as autoridades internacionais, que já tinham ouvido falar dos campos de extermínio. No entanto, a maquiagem foi bastante superficial - com o fim da guerra se aproximando, os alemães não tinham interesse em manter suas vítimas vivas.

Helga teve de enfrentar Auschwitz, para o qual foi encaminhada com a sua mãe. Seu pai também foi destinado ao campo, mas não sobreviveu. O que permanece, no entanto, é o conselho dado à filha - registrar tudo o que ela visse. No diário de Helga, desenhos e uma tocante escrita servem como documentos históricos e, acima de tudo, humanos.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

1984 (George Orwell)

Vulgarizado após a criação dos reality shows , o livro de George Orwell se tornou um daqueles clássicos que todos comentam e que ninguém leu. Qualquer um quer falar com propriedade do Grande Irmão, da sociedade vigiada, mas todos esses clichês não chegam perto do clima opressor que o autor impõe à sua narrativa. 1984 é uma obra provocativa e premonitória. Ainda que as ditaduras não tenham obtido o poder previsto pelo escritor (pois se travestiram de democracia), os cenários descritos são um retrato mordaz dos nossos tempos modernos. Um exemplo: para entreter a grande massa (os "proles"), o governo do Grande Irmão tem em seu poder máquinas que criam letras de músicas de amor aleatoriamente. Essas canções, desprovidas de essência humana, são entoadas pelo povo e logo se tornam o ritmo do momento. E assim se revela mais um dos inúmeros meios de controlar uma população que não pensa, não critica e não questiona. Quando foi escrito, 1984 era uma obra futurística. Lido h...

As três Marias (Rachel de Queiroz)

Protagonistas femininas para um romance escrito por uma mulher - uma mudança de perspectiva tão necessária em meio a esses nossos cânones machistas. Rachel de Queiroz é escritora de mão cheia, e não se deixa vender ao estereótipo de moça que escreve para relatar seus conflitos pessoais. Sua obra é social, intensa, mas sem diminuir o interesse psicológico de seus personagens. Trechos: "A gente pensa que a infância ignora os dramas da vida. E esquece que esses dramas não escolhem oportunidade nem observam discrição, exibem-se, nus e pavorosos, aos olhos dos adultos e aos dos infantes, indiferentemente." "-Conheça o teu lugar, minha filha.. (Isto é: 'Pense em quem é você, na mãe que lhe teve, mulher sem dono e sem lei, que lhe largou à toa, criada por caridade. A vida se mostra, à sua frente, bela, sedutora, iluminada. Mas, para você, é apenas uma vitrina: não estenda a mão, que bate no vidro; e não despedace o vidro; você sairá sangrando... Contente-se ...

Cartas a um jovem poeta (Rainer Maria Rilke)

Esse é um daqueles livros que de tão recomendados, citados, comentados, já parecem ter sido lidos antes mesmo da primeira virada de página. Tinha uma visão consolidada de que o tema desta obra eram os conselhos que um escritor pode passar a outro - e não imaginava que, antes de tudo, essas cartas são uma espécie de manual para a vida. Tão necessário, aliás. Rilke se ancora na literatura, mas passeia por caminhos diversos: a solidão, a escolha da mulher, as amizades, os valores morais de cada um... Como um mestre frente a seu discípulo, o escritor o guia pela mão através do mundo. Nem sempre os seus ensinamentos são indiscutíveis. Há material que sobra, existem conselhos deixados de fora. Mas, superando seus pequenos deslizes como filósofo, Rilke se apoia na força das palavras. Seu discurso é uma torrente que nos leva, com um vigor romântico contagiante. Trechos: Uma única coisa é necessária: a solidão. A grande solidão interior. Ir dentro de si e não encontrar ninguém durante h...