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Tarsila: os melhores anos (Maria Alice Milliet)

O título da obra, que talvez induza o leitor a acreditar que terá em mãos não uma biografia, mas um recorte da vida de Tarsila, é bastante ambíguo. Por mais que o livro dê conta de todo o percurso da artista, desde o seu nascimento, o fato é que, enquanto criadora, ela teve alguns (poucos) anos melhores que todos os outros.

Filha de cafeicultores endinheirados, a pintora pôde dedicar-se inteiramente ao estudo das novas vanguardas modernistas, sem a preocupação de arranjar um trabalho ou uma fonte de renda. No entanto, com a crise de 29, boa parte da vida de Tarsila parece desmoronar: Oswald de Andrade, seu marido, foge de casa para ter um caso com Pagu; a família perde grande parte das propriedades; sua tentativa de obter um emprego burocrático é falha e, ao fim, ela se vê na incumbência de pintar retratos e quadros por encomenda para conseguir se sustentar.

As tragédias na vida de Tarsila foram muitas: prisão por ter se simpatizado com o regime comunista, perda da única neta seguida da morte da única filha, fim da vida entrevada em uma cadeira de rodas. Com tantos revezes, não é de se admirar que a parte mais importante da sua obra corresponda, igualmente, aos melhores anos de sua biografia - quando ainda não havia sido assolada por tantos pesares e podia se voltar inteiramente ao projeto modernista.


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