A obra clássica da Disney para o roteiro de A Bela e a Fera já havia sido inovadora, em certos pontos, nos idos 1991. Foi a primeira indicação de animação para concorrer aos Oscar de melhor filme, e, além do mais, trazia algumas pitadas de discussão feminista - desde que comparada aos demais contos de fadas da Disney. Isolada de seu contexto, é preciso admitir que qualquer tentativa de emancipação da mulher nesta primeira produção sobre o clássico francês foi muito tênue - e, em alguns aspectos, questionável. Bela só foi considerada uma personagem feminista por ser diferente, leitora, acima da média. Assim, sua ideia de feminismo não contempla a tão necessária sororidade.
A versão de 2017 realizou alguns ajustes ideológicos em relação à obra precedente. De fato, é um filme girl power...zinho. Muitas questões continuam passando às margens ou sequer sendo discutidas, como a falta de empatia por outras mulheres, a problemática das classes sociais etc. No entanto, considerado como uma história de princesas que vai ser, necessariamente, distante da realidade, o filme é interessante - ao menos como obra de transição cultural.
Bela, interpretada pela também questionada feminista Emma Watson, incorpora vários traços de uma jovem resistente e obstinada: além de leitora, é engenheira (ou seja, sai da teoria para a prática); é alfabetizadora de outras meninas; é desprezada pela sua comunidade (o que talvez justifique um pouco a sua síndrome de Estocolmo em relação à Fera); elabora subterfúgios para escapar do castelo de seu sequestrador e luta como uma garota.
Os aspectos que mais me incomodaram na narrativa não foram tanto os desvios de uma teoria feminista mais exigente e prática, mas sim a montagem das cenas. Há um excesso de efeitos especiais, computação gráfica e outros recursos que interrompem a fantasia na qual o espectador espera se ver imerso. Entretanto, apesar dos pesares, é um filme que resgata a infância com uma atualização importante de discurso.
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