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Os doze trabalhos (filme de 2006)

Na literatura grega, os gêneros se dividiam segundo o tipo de pessoa que representavam: enquanto os nobres e poderosos tinham seus dramas expostos na forma de tragédia, o restante da população só se reconhecia nos palcos por meio do riso derivado da comédia. O rico era motivo de comoção; o pobre, do escárnio.




Os novos significados que foram sendo atribuídos ao regate da cultura grega, iniciado no Renascimento, vão aos poucos subvertendo os paradigmas clássicos de composição. Assim, a ideia de um Hércules recém-saído de uma Febém e motoboy na região central de São Paulo nada tem de inverossímil nos tempos que correm.

Recontextualizados, os principais elementos do mito do semideus se apresentam simbolicamente ao longo da produção: o oráculo, a descida aos infernos, a água relacionada à morte, o encontro com um felino arisco, com uma hidra (representada pelo duplo). Enfim, são as lutas de um dia de trabalho de um jovem negro sem perspectivas de ascensão social - enfrentando tarefas muito mais árduas e reais do que as do seu xará grego.

Inicialmente, o filme apresenta uma linguagem um tanto forçada, muito característica do cinema brasileiro que retrata a periferia: atuações mais "duras", excesso de palavrões, exibição voyerística dos meandros da favela e da classe pobre. Lentamente, tanto as interpretações de cada um quanto o filme em si vão se engrandecendo, expandindo-se, assumindo diversas possibilidades diante dos olhos atentos do espectador.

Sem pescar a intertextualidade, talvez pareça apenas mais uma obra de temática gasta. Para quem consegue reconhecer as diversas menções ao mito de Hércules, entretanto, é um filme inovador e, pelo seu mote, clássico.





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