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O pescador de ilusões (filme de 1991)

A produção megalomaníaca de Guy Ritchie sobre a lenda de Arthur e os cavaleiros da Távola Redonda é um dos destaques do cinema para este ano - ao menos, no quesito de filmes de ação. Com roteiro bem mais simples e quase 30 anos de idade, "O pescador de ilusões" consegue retomar o mito em uma releitura moderna, tocante e sem precisar de excessos para atingir o espectador.

Estrelando Robin Williams, o filme obviamente traz um protagonista carismático, pelo qual é difícil não se apaixonar. No entanto, ao contrário de alguns papéis mais superficiais do ator, aqui temos um personagem que, ainda que seja cativante, é complexo e vai além do carisma fácil.

O modo como o diretor (Terry Gilliam) trabalha o tema da violência é magistral - alegórico, delicado, e sem tornar o impacto das situações de trauma menor ou reduzido. Todo o enredo pode ser lido na perspectiva de uma narrativa arthuriana - com a busca do Santo Graal, a sagração do cavaleiro e o desenvolvimento da coragem e da valentia. Ao usar o tradicional para narrar um conto de amor moderno, o filme consegue atar perspectivas e simbologias diversas, criando uma obra multissignificativa. Feita para agradar sonhadores de todas as épocas.





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