Li pouco Julio Cortázar, mas as curtas narrativas dentro de "Historias de cronopios y de famas" constituem o que talvez seja o meu livro de contos preferido. Imerso no realismo mágico (esse gênero tão nosso, latino-americanos), Cortázar sabe ir além do estranhamento para criar afetividade; principalmente a parte final da obra, com foco nos cronópios, nas famas e nas esperanças, é tão deliciosamente construída que chega a ter um pouco da aura da boa literatura infantil.
Sabendo recorrer ao amor que uma boa história desperta, esta não é, contudo, uma obra infantiloide. Cada pequeno conto está imerso em uma trama de sentimentos e reflexões profundos, como a vida, a morte, o papel da literatura, a memória...
Bastante curtos, os contos não se aferram a uma estrutura só; talvez, pela sua pequena extensão, sejam mais abertos a experimentações com a linguagem. Nesta obra encontramos desde instruções para atos banais (como dar corda a um relógio, como subir uma escada), narrações de atos inexplicáveis de uma família desajustada, contos quase dadaístas até o universo fantástico dos cronópios, das famas e das esperanças.
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