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Poesia sem fim (filme de 2017)

O que 2017 me trouxe de bons filmes também me legou de estranhamento, certos choques e o abandono de minha zona de conforto enquanto espectadora. Algumas das melhores produções a que assisti neste ano tiveram esse efeito ainda mais intensificado, como foi o caso de "Poesia sem fim". Desabituada à linguagem surrealista do diretor Jodorowsky, durante a exibição da obra senti um incômodo muito maior do que o prazer estético. No entanto, foi um filme que ficou gravado dentro de mim, crescendo em significados e se expandindo em possibilidades. Ao fim de uma experiência de surpresa e rejeição, se transformou em uma referência afetiva.

Não é um filme para desavisados, portanto. Todavia, se estivermos abertos à proposta que se oferece já no título - poesia sem fim, polissemia sem restrições - podemos ir, aos poucos, digerindo o longa chileno. E ao final, diante dos créditos, ao percebermos que são os próprios filhos do diretor que interpretam o papel de seu pai em diferentes fases da vida, ganhamos uma grata surpresa.

"Poesia sem fim" é o legado de uma vida, o filme que (provavelmente) fecha a carreira do cineasta latino. Estruturado de forma biográfica, revela como o seu protagonista envolveu-se com o mundo da arte e foi dominado por ela. Lido enquanto testamento e declaração de amor à arte, é uma produção tocante, exemplar. As cenas finais são especialmente marcantes, e conseguem instigar até o espectador mais desconfiado - afinal, é um filme sobre a vida em toda a sua plenitude.





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