O arquétipo da babá que mata as crianças não é uma novidade na nossa cultura - veja-se "A mão que balança o berço", "Minha babá é uma vampira", "A babá" (série de terror), dentre outros exemplos que qualquer busca rápida pelo Google nos fornece. Assim, com um tema tão batido, o que diferencia o livro da autora franco-marroquina Leïla Slimani?
Primeiramente, obra dificilmente poderia ser considerada um suspense, já que deixa bem claro seu desenlace logo ao primeiro parágrafo:
"O bebê está morto. Bastaram alguns segundos. O médico assegurou que ele não tinha sofrido. Estenderam-no em uma capa cinza e fecharam o zíper sobre o corpo desarticulado que boiava em meio aos brinquedos. A menina, por sua vez, ainda estava viva quando o socorro chegou. Resistiu como uma fera. Encontraram marcas de luta, pedaços de pele sob as unhas molinhas. Na ambulância que a transportava ao hospital ela estava agitada, tomada por convulsões. Com os olhos esbugalhados parecia procurar o ar. Sua garganta estava cheia de sangue. Os pulmões estavam perfurados e a cabeça tinha batido com violência contra a cômoda azul. Fotografaram a cena do crime."
O foco da narração não é o de desvendar um mistério; pelo contrário, todo seu esforço concentra-se em criar o panorama de uma tragédia que já se sabe inevitável. Sem eximir nenhum dos personagens de culpa, a autora trabalha com a responsabilização de toda uma sociedade: desde a mãe que não quer abdicar da carreira profissional à qual tanto se dedicou até as condições precárias de trabalhos dos imigrantes, sempre permeadas pelo racismo e pela violência. Trazendo discussões sociais importantes à tona, a obra vai muito além de um simplório thriller - afinal, a violência trabalhada por Slimani é absolutamente real (e, como no livro, também quase sempre inevitável).
Primeiramente, obra dificilmente poderia ser considerada um suspense, já que deixa bem claro seu desenlace logo ao primeiro parágrafo:
"O bebê está morto. Bastaram alguns segundos. O médico assegurou que ele não tinha sofrido. Estenderam-no em uma capa cinza e fecharam o zíper sobre o corpo desarticulado que boiava em meio aos brinquedos. A menina, por sua vez, ainda estava viva quando o socorro chegou. Resistiu como uma fera. Encontraram marcas de luta, pedaços de pele sob as unhas molinhas. Na ambulância que a transportava ao hospital ela estava agitada, tomada por convulsões. Com os olhos esbugalhados parecia procurar o ar. Sua garganta estava cheia de sangue. Os pulmões estavam perfurados e a cabeça tinha batido com violência contra a cômoda azul. Fotografaram a cena do crime."
O foco da narração não é o de desvendar um mistério; pelo contrário, todo seu esforço concentra-se em criar o panorama de uma tragédia que já se sabe inevitável. Sem eximir nenhum dos personagens de culpa, a autora trabalha com a responsabilização de toda uma sociedade: desde a mãe que não quer abdicar da carreira profissional à qual tanto se dedicou até as condições precárias de trabalhos dos imigrantes, sempre permeadas pelo racismo e pela violência. Trazendo discussões sociais importantes à tona, a obra vai muito além de um simplório thriller - afinal, a violência trabalhada por Slimani é absolutamente real (e, como no livro, também quase sempre inevitável).
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