Entre o vulgar e o hermético, Hilda Hilst figura como uma personagem muito peculiar no cenário da literatura brasileira, que ora convida e ora afasta seu leitor. Esse efeito de aproximação e distanciamento é bastante notável em "A obscena senhora D", no qual temos um fluxo de consciência irrefreável, pontilhado de palavrões e muito sarcasmo.
A maior dificuldade ofertada ao leitores é identificar a voz narrativa que conduz cada um dos trechos do discurso; além disso, é preciso pactuar com as cenas, mesmo na sua aparente inverossimilhança. A protagonista da trama, senhora D, é quem - mesmo julgada ser fora da razão - proferirá duras e incômodas verdades.
Não há pudores nem na linguagem e nem no desnudamento de hipocrisias cotidianas: tudo é dado de forma crua, sem ornamentos. No entanto, se encaramos a aventura do livro (necessariamente incômodo), também nos depararemos com inusitados trechos poéticos e reflexões surpreendentes. Como a própria vida de Hilda, a de senhora D é obscenamente deliciosa.
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