Desde o título, a escritora Selva Almada antecipa elementos que serão fundamentais para esta obra: a solidão, o ermo, a força da natureza, o destino. Ambientado em um cenário isolado, o romance traz à tona os conflitos do encontro inusitado entre um pastor e sua filha adolescente com um mecânico e o garoto sob a sua responsabilidade.
A religião está bastante presente, a ponto de misturar-se ao próprio discurso narrativo. Se essa característica a princípio pode incomodar os mais céticos (categoria em que me incluo), aos poucos, conforme percebemos a urdidura da trama, torna-se uma chave importante para entender a sua própria estrutura. Longe da pregação ou dos questionamentos incendiários, o que a escritora faz é torcer esse fluxo religioso, revirá-lo do avesso, abrindo várias possibilidades de interpretação para o leitor.
Com poucas páginas, personagens não tão complexos e um cenário quase minimalista, o romance consegue surpreender. A escrita da autora consegue sintetizar diferentes emoções em poucas cenas e por meio de um estilo muito límpido, sem excessos. É uma excelente leitura.
Comentários
Postar um comentário