Meu desejo de ler esta obra veio após assistir, estarrecida, ao incêndio do Museu Nacional no Rio de Janeiro. No entanto, se o que buscava era algum consolo - ou explicação - para a destruição de nosso acervo histórico, nenhuma dessas expectativas foi atendida. E isso não se dá por falta de qualidade, muito pelo contrário: o que Lucien X. Polastron faz, ao longo de mais de 400 páginas, é construir um panorama de como as bibliotecas foram (e continuam sendo) dizimadas em função de descaso, ódio político e religioso. Ao fim da leitura, ficamos espantados pelo fato de ainda termos conservado algumas raras obras depois de tantos séculos de queima de livros.
A imersão na leitura não é um processo fácil. Com uma linguagem de historiador, o autor não se preocupa em oferecer a contextualização de cada período e local que descreve. Há o pressuposto de que o leitor já conheça de antemão os muitos nomes e dados que serão oferecidos no livro para relatar os casos de destruição de bibliotecas. Assim, ao menos para mim, a obra foi se tornando mais interessante quanto mais próxima de meu contexto. A parte sobre as Guerras Mundiais, por exemplo, foi uma das que mais me envolveu - justamente por eu já ter referências o suficiente do panorama.
Os anexos, ao final, também são indispensáveis. Um deles é uma listagem de obras literárias que abordaram a destruição de livros - simplesmente fascinante. E, como bom estudioso do tema, Lucien nos presenteia com mais de 30 páginas de bibliografia. Suas dicas de leitor - e de como podemos preservar o objeto livro, que tanto nos encanta - são essenciais. Ainda que seja um estudo que cause a mais profunda desilusão, é absolutamente necessário. Afinal, se queremos preservar o livro (e a sua liberdade), precisamos saber quais são seus riscos reais em um mundo cada vez mais obtuso e orgulhoso de sua ignorância.
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