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No portal da eternidade (filme de 2018)

Van Gogh não é um tema novo para o cinema; apenas no intervalo entre 2017 e 2018 tivemos dois longas excelentes sobre o pintor, ambos retratando o mesmo período de sua vida. 

Qual é o sentido, portanto, de assistir a "No portal da eternidade" se "Com amor, Van Gogh" já era uma obra de arte tão completa e estonteante? Porque, como tema e como artista, Van Gogh nunca se esgota. Ainda que o recorte histórico de ambos os filmes seja o mesmo, são imersões únicas (que tão bem se complementam). 

"No portal da eternidade" conta com a atuação de Willem Dafoe, que se mostra uma excelente opção para o papel. A interpretação é tão absolutamente verossímil que nos faz esquecer que o ator de 63 anos interpreta Van Gogh com 37. A fotografia do filme é espetacular, e busca reproduzir o olhar do pintor holandês sobre a realidade. Com cenas lindas de desfoque, preto e branco, estouros de luz, é uma obra que desafia as convenções da imagem (em um diálogo direto com a irreverência de Van Gogh).

Declaração de amor e encantamento de um artista por outro, a obra é estonteante. Um trabalho à altura do biografado.


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