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Otelo (Shakespeare)

Este é um ano em que, por motivos diversos, me encontrei com a produção de Shakespeare em diversos contextos. A leitura de Otelo, feita em um dia (entre viagens de ônibus e metrô, antes de aula sobre a peça) foi um dos meus mais recentes contatos com o bardo inglês.

A proposta de entendimento do texto, alinhada à da aula, era desvendar possíveis intertextualidades que derivaram deste famoso drama familiar de Shakespeare. Aliás, essa é uma das características que marcam "Otelo": a tragédia do ciúme e intriga subsiste por si só, ao contrário de outras peças do autor, em que há um rico contexto histórico ligado ao drama vivido por famílias da nobreza.

No entanto, o olhar mais atento às relações interpessoais do que ao panorama que as circunda de modo nenhum torna as temáticas abordadas menores. Assim, pautas abordadas em Otelo reverberam até nossos dias, adaptadas e relidas das mais diversas formas: a traição de um amigo, a desconfiança do ser amado, o amor por alguém mais jovem, o preconceito étnico... 

Dentre tantas intertextualidades shakesperianas, a que mais me surpreendeu foi a referência direta que há em "Dom Casmurro": assim como Bentinho, Otelo também diz à sua amada que lhe deixe ver seus olhos. E, em ambos escritores (de épocas e locais tão diversos), o protagonista cego por seu ciúme já não pode ver, ainda que tivesse tentado se guiar pela mirada de sua vítima.


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