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Primeiras estórias (Guimarães Rosa)

Não sei precisar em que releitura estou das Primeiras estórias de Guimarães Rosa; afinal, alguns dos contos que compõem essa coletânea já fazem parte do imaginário das letras brasileiras, como "Famigerado", "A terceira margem do rio" ou "Sorôco, sua mãe e sua filha".

Tornei-me leitora de Rosa ainda na adolescência; ao retomar suas obras mais de uma década após esse contato inicial, tenho me surpreendido bastante ao redescobrir os seus narradores infantis. Certas sutilezas na construção do ponto de vista de uma criança me escaparam em uma primeira leitura; no entanto, hoje é um dos recursos em que consigo enxergar mais claramente a maestria do autor.

No conto que abre a coletânea, por exemplo, acompanhamos o olhar de um menino a descobrir uma Brasília ainda em construção; assim, a descrição infantil é contraposta ao nascimento de uma cidade, também caminhando indecisa em seus primeiros passos. Outras estórias também retomam essa fase da vida, como "A menina de lá" e "Pirlimpsiquice". Contudo, não é só a presença de um narrador criança que garante à obra esse olhar de deslumbramento diante do mundo; em quase todos os contos, lidamos com personagens ora indefesas (mãe e filha de Sorôco), ora incapazes de argumentar com os demais (o pai em "A terceira margem"). Assim, além da própria linguagem fabulada do escritor, os enredos também dão conta de descortinar um mundo novo ao leitor, pleno de mitos, alumbramentos, estórias primordiais.




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