Livro de estreia da aclamada escritora Chimamanda Ngozie Adichie, Hibisco roxo é uma leitura violenta. Desde as primeiras páginas, somos apresentados a uma família disfuncional, mas que é vista como exemplar na sociedade em que está inserida. Ainda que haja fortes laços de ternura entre os dois irmãos e a mãe, eles são a todo momento esgarçados pela figura austera e opressora do pai.
Se, por um lado, a escolha de apresentar personagens jovens como vítimas pode parecer um meio fácil de ganhar a simpatia do leitor, por outro lado há decisões mais complexas na narrativa tecida pela autora. Uma delas é construir o grande vilão de sua história como um tirano no ambiente doméstico e um mártir progressista no ambiente social. Assim, a escrita de Chimamanda é incômoda o tempo todo: porque sabemos que haverá mais cenas de violência e, mesmo assim, temos consciência de partilhar dos mesmos ideais políticos de quem a exerce. Além disso, nem sequer as vítimas são dóceis; além de nos irritarem com o seu mutismo, também se revelam capazes de atos falhos e mesquinharias diversas.
O livro ainda não conta com o viés ensaístico da autora (como ocorre em Americanah), mas é possível ler muito da realidade da Nigéria e da mulher em suas entrelinhas.
Comentários
Postar um comentário