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Todas as manhãs do mundo (filme de 1991)

Retrato de duas personagens históricas, o filme nos apresenta os compositores Monsieur de Sainte Colombe e Marin Marais. Mesmo para quem não conhece ambos (como era o meu caso), o mero interesse por música e pela estética do século XVII é o suficiente para manter o interesse pela narrativa.

Trata-se de um filme lento, ainda que haja vários acontecimentos e reviravoltas na trama pessoal dos personagens. No entanto, o objetivo vai além da mera biografia dos protagonistas; o que está verdadeiramente em jogo é a sua arte, o que exige do espectador um olhar mais contemplativo (bem como um ouvido atento às diversas apresentações musicais que se sucedem ao longo da obra).

A fotografia é belíssima e nos dá a impressão de estar diante de um quadro de época o tempo todo. Se congeladas, algumas cenas são verdadeiras naturezas mortas, pinturas da corte ou retratos que trabalham belamente o claro-escuro. 



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