Como um quebra-cabeça, nada é muito claro em "Profissão: repórter" (péssima tradução, por sinal, de "The Passenger". Afinal, o que o protagonista faz em toda a trama é uma passagem, uma caminhada sem muito sentido — vai de uma vida a outra (usurpando a identidade de um morto), de um deserto afastado a uma cidade movimentada, de um estado de afobação a um de incertezas. E nós, como espectadores, acompanhamos essas passagens, sem conseguirmos traçar claramente aonde dará essa trilha.
A ambientação e a fotografia contrapõe belamente os cenários, que caem como uma luva para refletir a inquietação e instabilidade do protagonista. Mesmo quando a câmera se fixa em um ponto (como a bela sequência de imagens que passam por uma janela, ao final), o recorte de cena e a narrativa que é contada são impressionantes.
Jack Nicholson, talvez habituado a personagens deslocados, tem uma atuação maravilhosa. Por outro lado, a protagonista feminina é o papel que cabe a Maria Schneider, em uma época já pós-O último tango em Paris. Assim, não há cenas de desvalorização da mulher, uma vez que a atriz já tinha maturidade o suficiente para se afirmar contra a agressão misógina no cinema. Em um filme que já tinha de tudo para ser bom (com uma simbologia riquíssima), ter esse conforto ideológico é um motivo a mais para assistir.
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