Sula é, sem dúvidas, um livro representativo das pautas do movimento negro. Muitas das questões colocadas por Morrison em 1973 continuam sem solução: o racismo estrutural, a criação das periferias, a culpabilização das mulheres por sua conduta sexual, a falta de oportunidades, a necessidade de sobrevivência sobrepondo-se a qualquer tentativa de afeto.
Essa última característica, em particular, é também o que incomoda no livro. Até Conceição Evaristo (a curadora que indicou o livro para a Tag Curadoria) concorda que, enquanto escritora, entende as razões de Morrison... mas, como leitora, também preferiria um destino diferente para as protagonistas. É muito doloroso ver o quanto as personagens, vítimas de todas as falcatruas do sistema, ainda parecem fazer questão de boicotar qualquer possibilidade de amor.
O início de Sula é muito potente, com metáforas fortes e carregadas de simbolismo. No entanto, toda a força do início da narrativa se dilui ao longo da obra. Também há um excesso de personagens que aos poucos se esvai, para dar foco exclusivo à história de Sula. Sei que não tenho bagagem o suficiente para compreender o livro (que trata de questões que eu, como pessoa branca, nunca viverei) — mas tampouco sei se um dia serei capaz de gostar mais deste romance.
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