Nunca tinha lido Sartre, e meu receio era me deparar com um texto filosófico difícil, muito intrincado — mas com o que realmente me topei foi com um senhorzinho rabugento e lacrador. Assim como a filosofia das frases cala-boca, que adoram uma boa generalização, é muito fácil ver a tese principal defendida neste livro deslizar pelo terreno das falácias... ao que Sartre prontamente responde: segundo ele, escolheu o que era mais urgente de ser debatido. E esse viés de decidir pelo imediatismo da sua própria proposição não passa muito longe da manha de um garoto mimado.
Algumas alfinetadas ao longo da obra são realmente divertidas, e não de todo inválidas: quando diz que a burguesia quer decidir com que molho será devorada, que os surrealistas corrompem o mundo só para ir contra o papai rico... É hilário, mas um tanto raso (ainda que carregado de verdades).
A grande solução proposta para o problema da literatura – democratizá-la sub-repticiamente pelos meios de comunicação, como roteiros de novela – é de uma ingenuidade comovedora. Ainda mais quando vemos, hoje, o grande desdém da academia por influenciadores digitais, que divulgam muito mais literatura do que qualquer professor (ou filosófo) enredado em seus academicismos.
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