Há muito tempo não se via um murmurinho tão grande em torno a um lançamento da literatura brasileira — o que alia grandes expectativas a um julgamento menos condescendente em relação ao livro. No meu caso, estava gostando demais do enredo, até me topar pela primeira vez com a palavra "didatismo" em uma crítica; depois dessa percepção alheia, foi difícil prosseguir sem me atentar às repetições, redundâncias, explicações que Itamar oferece a seu leitor.
Algumas avaliações mais ferinas veem nesse didatismo uma tentativa de fazer um livro para ser consumido pela classe média branca, listando todo o beabá das misérias do povo negro e tornando-as assimiláveis para quem não poderá nunca compartilhar da mesma ancestralidade e vivências. O que mais me incomodou, em toda a polêmica, foi uma resposta mal-educada de Itamar a uma jornalista, na qual deixava implícito que ela não tinha entendido a potência de sua obra.
O fato é que Torto arado cativa — não no sentido mais desumano da palavra, que é o que realmente permeia sua narrativa. Com um começo espetacular, é para lá de esperado que as expectativas do leitor o façam ter uma régua alta... para, no fim, acabar medindo o rodapé da escrita. Para avaliar aquilo que sobra de um jogo verossímil de narradoras (mas que não esconde o fato de terem todas igual voz), um início potente, a importância das pautas abordadas (mesmo que pareça preencher um checklist para incorporar todas as demandas sociais urgentes em pouco mais de 200 páginas) e o onipresente didatismo. A parte final, considerada a mais surpreendente por muitos leitores, foi a que menos me interessou. O recurso utilizado para amalgamar a narrativa em seu desfecho me pareceu pouco crível, tão esvoaçante e débil como a voz que narra o desencadear da dureza da vida de suas protagonistas.
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