Elif Batuman é um nome que reapareceu com força no mercado brasileiro, com o lançamento de A idiota. Assim como em sua obra mais recente, Os possessos deixa bem claro, já pelo título, o paralelo com a literatura russa. E, curiosamente, Batuman é uma escritora estadunidense com ascendência turca – o que dá à sua escrita uma visão muito particular de mundo.
Filha do Oriente e do Ocidente, a autora traz uma perspectiva singular para entender a história da Rússia, país com raízes espalhadas por dois continentes tão diversos quanto a Europa e a Ásia. O livro traz muitas reflexões instigantes; entre as que ainda reverberam em mim, estão estas:
- o porquê de os escritos de Dostoiévski e Tolstói, bem como de outros seus contemporâneos, gerarem uma identificação tão forte com seus leitores;
- a repetição de motivos, alegorias e estratégias similares e o consequente empobrecimento da literatura contemporânea;
- como os nomes dos personagens podem ser: um reflexo do quanto o escritor deseja construir caracteres únicos e individuais x o reflexo do escritor que deseja espelhar a vida real, sem se abster de repetir nomes para personagens diferentes;
- como as intertextualidades com obras maiores que a própria pode, na verdade, ser um novo paradigma da construção do romance atual.
Apesar da vasta lista de apontamentos literários perspicazes, aos poucos fui me incomodando com a narradora/autora da obra. Há um ar privilegiado de quem só circula pelas academias que me parece distante de diversas formas potentes de literatura (aquelas que não adentram a torre de marfim das universidades). Além disso, um certo preconceito pela produção cultural de outros povos, como os uzbeques, é mal disfarçado. No fim, a arrogância que tanto é criticada pela escritora se apresenta de forma isomórfica em sua própria obra.
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