Minha primeira tentativa com este livro não foi duradoura – depois de ler algumas páginas, acabei deixando a obra esquecida nos desvãos da estante. Não me lembro o que me afastou da escrita de Sagan naquele momento, que sequer é longínquo; no entanto, não foi necessário que muito tempo se passasse para que boa parte de suas previsões políticas e científicas se confirmassem e eu tivesse de abaixar a cabeça, com a vergonha de não haver entendido suas afirmações com rapidez.
Com um certo ar de Nostradamus moderno, Sagan antecipa muitos dos dilemas em que nos enroscamos hoje. Ainda que fale prioritariamente do espaço sideral, tudo acaba reverberando em política. E aí podemos perceber sua visão apurada, que indicava o problema das fake news quando ainda se resumiam a poucos tabloides vendidos em bancas de jornal.
Alguns trechos do livro são um tanto datados – como a análise de muitos e muitos relatos de quem acreditava ter sido abduzido, mas isso não invalida o texto. Comparados com os crocodilianos modernos, os devaneios sobre UFOs parecem até mais sensatos.
Vulgarizado após a criação dos reality shows , o livro de George Orwell se tornou um daqueles clássicos que todos comentam e que ninguém leu. Qualquer um quer falar com propriedade do Grande Irmão, da sociedade vigiada, mas todos esses clichês não chegam perto do clima opressor que o autor impõe à sua narrativa. 1984 é uma obra provocativa e premonitória. Ainda que as ditaduras não tenham obtido o poder previsto pelo escritor (pois se travestiram de democracia), os cenários descritos são um retrato mordaz dos nossos tempos modernos. Um exemplo: para entreter a grande massa (os "proles"), o governo do Grande Irmão tem em seu poder máquinas que criam letras de músicas de amor aleatoriamente. Essas canções, desprovidas de essência humana, são entoadas pelo povo e logo se tornam o ritmo do momento. E assim se revela mais um dos inúmeros meios de controlar uma população que não pensa, não critica e não questiona. Quando foi escrito, 1984 era uma obra futurística. Lido h...
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