Ao adentrar pelas páginas de Vista Chinesa, já conhecendo por antecipação o seu tema, me propus o exercício de relembrar quantos dos livros que já li tratavam do estupro. Repassei, inclusive, algumas das leituras que fiz neste ano, como To Kill a Mockingbird e Ensaio sobre a cegueira. Mas nada do que vira até então constituiu um retrato tão chocante como o proposto por Tatiana Salem Levy.
Não é só o pressuposto de ser fundamentado em uma história real. O que dói aqui é ler a perspectiva de uma mulher não calando o que é o nosso medo compartilhado mais profundo. Que mulher no mundo nunca passou por uma situação de assédio? Quem de nós nunca teve esse temor? Talvez a sororidade seja isso, em suma: possuímos um horror ancestral que nos iguala.
Finalizada a leitura, as cenas descritas a todo momento voltam à memória. Se eu, como leitora, tenho essa impressão, não é possível sequer imaginar quanto essa brutalidade deve assombrar a pessoa que realmente a viveu. Com pouco mais de 100 páginas, Vista Chinesa tem como mote um ato curto, uma violência que não se estende no tempo: e, tal como o objeto que retrata, não é sua duração que o torna menos avassalador.
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